Por Bernardo Melo Franco na Folha de São Paulo
BRASÍLIA - Michel Temer recorreu a um truque antigo para reagir à
denúncia por suposta prática de corrupção. Em vez de se defender, o
presidente atacou o acusador. Ele subiu o tom contra o procurador-geral da República e classificou a peça entregue ao Supremo como "uma ficção".
A denúncia tem fragilidades, mas é Temer quem parece ter abandonado
qualquer compromisso com os fatos. Nesta terça, ele começou o discurso
agradecendo o "apoio extremamente espontâneo" dos parlamentares que
estavam no Planalto. A tropa havia sido convocada minutos antes, em
mensagens disparadas por celular.
O presidente apresentou duas versões distintas para a encrenca em que se
meteu. Primeiro insinuou, sem apresentar provas, que o procurador
Rodrigo Janot teria recebido propina para denunciá-lo. Depois disse que o
dono da JBS o acusou no "desespero de se safar da cadeia".
Temer cometeu erros surpreendentes para quem se gaba de conhecer as
leis. Chamou o áudio de Joesley Batista de "prova ilícita", apesar de o
STF já ter autorizado o uso de conversas gravadas por um dos
participantes. E acusou um ex-assessor de Janot de violar a quarentena,
regra que inexiste para procuradores.
O presidente pareceu indeciso sobre o que pensa do empresário que o
acusou. Ao justificar o encontro noturno no Jaburu, exaltou Joesley como
o "maior produtor de proteína animal do país". Ao rebater a delação,
voltou a chamá-lo de "bandido".
Numa tentativa de demonstrar que terá apoio para barrar a denúncia na
Câmara, o presidente se cercou de deputados ao discursar. Pode ter sido
uma ideia razoável, mas ele cochilou na seleção do elenco.
Do seu lado direito estava André Moura, réu em três ações penais e
investigado por suspeita de homicídio. Do esquerdo, Raquel Muniz, mulher
de um ex-prefeito preso sob acusação de corrupção. Logo atrás dela
despontava Júlio Lopes, delatado na Lava Jato e citado nas investigações
do esquema de Sérgio Cabral.
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