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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Camisa ensanguentada de Valdemiro é usada para ‘curar’ fiéis

VEJA.com
Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, recebe alta do hospital e repousa em casa
A câmera de televisão dá um zoom no pescoço do pastor Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Ele arregaça a gola e mostra o curativo da facada que levou no pescoço no culto de domingo de manhã. “Imagina um facão com toda a força batendo sobre a sua jugular”, diz. Sentado numa bancada ao lado da esposa, a bispa Francileia Santiago, o religioso afirma em seu canal de TV que a camisa usada na hora do ataque já serviu até para “curar” fiéis. Nas imagens, um membro da igreja aparece esfregando-a em um manto.
“Passaram até a camisa ensanguentada no manto. Quando ela [a fiel] tocou no manto, ela aplumou. Foi curada. O demônio fez o serviço dele, mas acabou dando o contrário. No acerto de contas com o diabo, foi assim: ‘E aí, como é que foi com o Valdemiro? O saldo foi negativo. Porque teve até gente que saiu curada'”, diz o pastor, que se autointitula apóstolo. “A unção está na nossa roupa, no nosso copo, no nosso relógio, na nossa aliança, no nosso chapéu, no nosso sangue”, explica Santiago, fazendo o adendo de que o poder vem de Deus e não dele.
No domingo, enquanto ele distribuía bênçãos aos fiéis na chamada “imposição de mãos”, o ajudante-geral Jonathan Gomes Higino, de 20 anos, aproximou-se dele e o golpeou com um facão no pescoço. Jonathan foi detido em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. O pastor foi levado ao Hospital Sírio Libanês, onde levou 25 pontos, e recebeu alta após passar menos de seis horas internado.

Na TV Bandeirantes, Santiago chegou até a fazer brincadeira com o ataque, dizendo que vai instituir agora a “fila do açougue”. Para ele, ontem foi definitivamente um “dia de azar”. Despencou até da maca quando era encaminhado ao hospital. “Eles me deixaram cair da ambulância com a cabeça no chão. Eu estava com um azar aquele dia”, completou. 
Em entrevista a VEJA, o pastor Jorge Pinheiro, que assumiu temporariamente o comando da Poder de Deus, disse que a camisa ensanguentada de Santiago não seria utilizada para “fins simbólicos”, mas que foi guardada “pela importância do que aconteceu”.
Fiéis durante culto na Igreja Mundial do Poder de Deus, um dia depois do pastor Valdemiro Santiago ser atacado com um faca (Cláudio Rabin/VEJA.com)
“FOI A MÃO DE DEUS QUE SALVOU”
Um dia depois do ataque, os membros da congregação se mostravam espantados com a agressão e mais seguros na fé depositada em seu líder religioso.
Na tarde desta segunda-feira, VEJA conversou com integrantes da igreja no templo que fica bairro Brás, no centro da capital paulista, onde o crime aconteceu. Sentado em uma cadeira na recepção, assistindo à entrevista de Santiago dada ao apresentador José Luiz Datena, o funcionário da igreja Marivaldo Lima de Assis não tinha dúvida sobre como o líder religioso sobreviveu aos golpes de facão que levou: “Foi a mão de Deus que o salvou”.
Dentro do templo, que comporta até 40 mil pessoas, rezando sozinho, o soldado Willian Costa Mendes, 22 anos, contou que estava na fila à espera de benção do bispo quando tudo aconteceu. Mendes considera que o atentado reforçou sua fé em Deus. “O apóstolo é um grande exemplo. A pessoa fez maldade com ele e ele o mesmo o perdoou”, disse. O jovem disse ter chorado depois do ataque.
Raimundo Simião, 61, também estava presente no domingo. Ele ajudava na organização das filas das bençãos na hora do ataque. Sua admiração por Santiago também cresceu depois do ataque: “Deus mostrou para o mundo inteiro que está presente no apóstolo”.
Vinda de Aragarças, em Goiás, Cristine de Oliveira, 66, era uma das 15 mil pessoas presentes naquela manhã de domingo. Ela ficou indignada por ver uma pessoa do “quilate do apóstolo” ser atacada em seu próprio templo. “Eu vi o sangue no chão e na hora já comecei a orar. Tenho mais fé nele agora, que provou mais do que nunca que é um ungido de Deus”. Oliveira se disse preocupada, com medo de que o apóstolo abandonasse os fiéis depois do ataque.
Já na sala de recepção da igreja, o clima era de normalidade. O bispo Jorge Pinheiro, que estava no altar no momento da agressão disse não ter visto o ataque. “Só percebi a gravidade quando ele passou por mim e disse ‘tentaram cortar minha carótida’”. Pinheiro conta que ouviu relatos de pastores afirmando que o movimento nos cultos à tarde e à noite no domingo havia aumentado. “Muitas pessoas foram orar pelo apóstolo.”
Sobre o agressor, o pastor disse que foi preso pelos seguranças e ficou trancado em uma sala na igreja até que a polícia chegasse. Conforme o bispo o esquema de segurança nos dias de cultos não será alterado.

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