Fernando Brito, do Tijolaço - Coube aos repórteres
Ruben Berta e Renata Mariz, de O Globo, permitir que se meça parte do
estrago feito pela forma “não quero nem saber o que vai causar” com que
se desenvolveu, sob os aplausos da mídia, a Operação Lava Jato.
Só em 11 grandes obras executadas por empreiteiras investigadas, e
hoje paradas consumiram-se R$ 55,7 bilhões, contam eles, mostrando os
esqueletos ao tempo, erodindo-se, enferrujando-se, carcomendo-se.
A Usina Nuclear de Angra 3, o Complexo Petroquímico do Rio, parte da
transposição do Rio São Francisco, rodovias, ferrovias, metrô, obras
hídricas e até uma universidade e um centro de tratamento de câncer
estão nesta lista, que é só parte do que foi abandonado.
Mas está tudo uma maravilha.
Espoucam foguetes pelo acordo de R$ 6,8 bilhões firmado pela
Odebrecht , oito vezes menor do que o valor do que não tem acordo, nem
nunca terá.
Um dinheiro que vai para não se sabe aonde. Descontada a parte dos
gringos e dos suíços, a “comissão” do Ministério Público (não será a
primeira), o resto vai para destino incerto e não sabido, porque
dinheiro só sai do cofre, hoje, para pagar dívidas e juros.
Certamente não ocorreu a nenhuma “excelência” obrigá-la – e às outras
– a pagar isso (e até mais) concluindo, sem custo, as obras
inacabadas.
Para que? Para gerar emprego, atividade econômica, compras de
materiais e, sobretudo, evitar que apodreça patrimônio público que
custou muitas vezes mais? Como, se isso já não era do gosto de Joaquim
Levy e menos ainda é de Henrique Meirelles, porque gera inflação?
Decerto não vem ao caso e se encontrarão inúmeras justificativas jurídicas para não fazer assim, mas por razões inconfessáveis.
Não se presta ao “marketing do arrependimento”, como definiu hoje
Bernardo Mello Franco, em sua coluna na Folha, um dos raríssimos
articulistas a denunciar a hipocrisia do pedido de desculpas da
Odebrecht que a a Procuradoria Geral da República brande como a um
troféu.
A reportagem de Ruben Berta e Renata Mariz fica como uma dolorosa
exibição de ossadas do banquete da República de Curitiba, depois de
devoradas a política, as instituições, o futuro do país.
Mas nenhum deles vai morar nos porões da vergonha.
Não precisam, têm auxílio-moradia dos holofotes da mídia para se espetarem como santos de altar.
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