Miguel do Rosário é editor do Cafezinho
Os desembargadores que votaram a favor de Moro, recentemente, num
voto cheio de citações estapafúrdias, quase ao estilo "Marx e Hegel",
foram bastante precisos quando disseram que a Lava Jato podia adotar
medidas "excepcionais", ou seja, estranhas à jurisprudência brasileira e
à Constituição. O próprio Moro, em palestra, também recente, para um
punhado de fanáticos numa cidade do Sul, foi absolutamente franco, ao
dizer que é era preciso tratar com "relativa excepcionalidade" a questão
das prisões cautelares e a presunção de inocência.
Vejam o caso Palocci. Moro mandou prendê-lo acusando-o de fazer lobby para a Odebrecht. E menciona no despacho a
Medida Provisória 406/2009, que beneficiaria a empreiteira. Em sua
defesa, Palocci diz que votou contra a medida. Moro rebate que a
afirmação é "carente de prova". O juiz não se deu ao trabalho de
conferir o painel da Câmara, que mostra o voto de Palocci. Moro diz
ainda Palocci teria trabalhado para "prevenir" o veto presidencial a um
benefício presente na medida. Lula vetou o benefício.
Palocci diz que não é o "italiano", porque há mensagens, nos próprios
autos, em que o nome de Palocci aparece ao lado de "italiano" (tipo:
Palocci e o italiano estiveram aqui, etc), e há referências a uma pessoa
próxima a Marcelo Odebrecht que era chamada também de "Itália", e que
esta seria a pessoa conhecida como "italiano".
Abaixo, trecho do despacho surreal de Moro, em que o juiz parece ir na contramão dos próprios autos.
Tudo é muito absurdo. Moro mandou prender Palocci porque, entre
outras razões, a PF não encontrou provas para incriminá-lo e isso seria
sinal de que ele as escondia. Daí resolveu mantê-lo preso
indefinidamente, porque... não se encontraram provas contra ele.
Ora, suponho que Palocci não seja santo, como pouca gente é, e que a
PF agora vai vasculhar a vida dele de cima a baixo, para encontrar
alguma filigrana que possa conectar a outra coisa, ou então, o que é o
mais provável, deixá-lo apodrecer na cadeia, até que fique desesperado o
suficiente para "delatar" Lula ou alguém mais do PT, porque Sergio Moro
já deixou bem claro - João Santana e esposa que o digam, além do
próprio Marcelo Odebrecht - que o sujeito só sai da Torre de Londres se
disser alguma coisa que possa ser útil ao Power Point da Lava Jato.
Como a prisão de Mantega pegou mal, Moro imediatamente mandou prender
Palocci. Algum petista graúdo tinha que ser preso às vésperas das
eleições, para surtir efeito nas urnas.
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