Os políticos não devem ser os únicos alvos da esperada delação de Eduardo Cunha.
Para negociar um acordo, a Lava Jato quer exigir que o ex-deputado
entregue as empresas que frequentaram seu movimentado balcão de
negócios. A lista é longa e eclética. Inclui bancos, empreiteiras,
seguradoras, frigoríficos e grupos de mineração.
O
correntista suíço forjou alianças de sangue com boa parte do PIB
brasileiro. Com apetite voraz, intermediou lobbies milionários e usou
sua influência para ditar a pauta econômica do Congresso. Foi coroado o
rei dos jabutis, as emendas exóticas incluídas em medidas provisórias.
De
acordo com as investigações, Cunha construiu um gigantesco propinoduto
entre as empresas e a política. Assim, engordou seu caixa pessoal e
financiou mais de uma centena de campanhas, pavimentando a rota até a
presidência da Câmara.
Quem
acompanhou a ascensão do dono da Jesus.com sabe onde encontrar alguns
fios do novelo. Se os procuradores quiserem, podem começar a puxar pela
MP dos Portos, aprovada em maio de 2013. Então líder do PMDB, Cunha
peitou o governo e capitaneou uma iniciativa que foi apelidada de
"emenda Tio Patinhas".
A
alteração favoreceu empresas poderosas como o Grupo Libra, que opera no
porto de Santos. No ano seguinte, seus sócios ajudariam a financiar a
campanha de Michel Temer à Vice-Presidência da República.
Como
bom monarca, o rei dos jabutis sabia agradar os súditos. Sua corte
chegou a reunir políticos de diferentes partidos, como PT, PP, PSDB e
DEM. "Tinha meia dúzia que participava de tudo, e o resto recebia a
ração depois que a MP era aprovada", conta um peemedebista que
frequentava o gabinete do novo detento.
A clientela de Cunha era maior e mais ampla que o cartel de empreiteiras do petrolão. As referências à companhia aérea Gol, citada em seu pedido de prisão preventiva, parecem ser apenas um aperitivo do que ainda está por vir
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