O
juiz Sergio Moro colocou nesta quinta (22) a gota d'água no copo da
escalada de arbítrio em curso no país. Curiosamente, o fez ao liberar, por razões humanitárias, o ex-ministro Guido Mantega depois
de algumas horas na Polícia Federal de São Paulo, e não ao mandá-lo
para a prisão por cinco dias ou dez dias, como havia decidido de início.
Pois, se era possível soltá-lo, não havia necessidade de prendê-lo, e a
arbitrariedade da detenção ficou evidente.
Não
sou eu quem o diz, mas o insuspeito de petismo Reinaldo Azevedo.
"Força-tarefa e juiz quiseram dar um recado: 'Mandamos soltar e prender
quando nos der na telha'", escreveu o colunista. O recado foi entendido.
A
justificativa de Moro revelou-se tão frágil que, desta vez, ninguém
engoliu. "Considerando o fato de que as buscas nos endereços dos
investigados já se iniciaram (...) reputo, no momento, esvaziados os
riscos de interferência da colheita de provas", escreveu no despacho de
soltura. Em outras palavras, bastava determinar a busca e apreensão, não
precisava prender o investigado.
Cabe
lembrar que, pela terceira vez, Moro apresenta explicações mal
ajambradas para decisões gravíssimas. Depois da também desnecessária
condução coercitiva de Lula, em 4 de março passado, emitiu nota na
qual "lamentava" que as diligências tivessem levado a confrontos,
"exatamente o que se pretendia evitar". Determinou a coerção para evitar
conflitos? Quem acredita?
Cinco dias mais tarde, Moro divulgou as famosas escutas telefônicas entre o ex-presidente Lula e a então presidente Dilma
Agora
parece que Moro ultrapassou o limite do aceitável, mesmo para corações
liberais e conservadores. Por isso, espero que o episódio Mantega
represente um corte. A opinião pública viu a face do arbítrio. Se ficar
conivente com ele, prestará contas à história. Quando um processo
autoritário se explicita, todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe
como termina
Leia aqui a íntegra do artigo de André Singer
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