Do blog do Josias
Michel Temer perdeu na reta final do impeachment algo que parecia
prezar nas suas maquinações: o recato. Combinando dois elementos que
costumam ser tóxicos na política —pressa e autoconfiança— investiu-se de
um desembaraço que produziu, em poucas horas, dois desastres:
1.
Sem sopesar os custos e os benefícios, Temer estrelou uma coreografia
para apressar a descida da lâmina que aguarda Dilma Rousseff no plenário
do Senado. Na noite de segunda-feira, num jantar na casa do ministro
Gilmar Mendes (TSE e STF), Temer manifestou a senadores presentes seu
desconforto com a hipótese de o julgamento de Dilma escorregar para os
primeiros dias de setembro. Disse que recorreria aos bons préstimos do
mandachuva do Senado, Renan Calheiros, para se certificar de que a
guilhotina seria acionada até o final de agosto. Com isso, produziu o
primeiro desastre: amarrou seu interesse pessoal à ficha corrida de
Renan, dono de impoluta biografia.
2. No almoço
de terça-feira, Temer dividiu a mesa com Renan e outros quatro pajés do
PMDB: Jucá, Eunício, Padilha e Geddel. Mal terminou o repasto, Renan
tocou o telefone para o presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Na
sequência, o senador trombeteou que o juízo final de Dilma começaria em
25 ou 26 de agosto, não no dia 29, como informara o STF no último
sábado. Ao justificar-se, Renan soou como porta-voz do Brasil limpinho:
“Há uma impaciência da sociedade com essa demora, inclusive a própria
presidente Dilma. Ela me falou que não aguenta mais…” O empenho de Renan
para fechar a conta do impeachment em agosto faz dele um credor de
Temer. O pagamento será publicado no Diário Oficial. Segundo desastre:
Temer nomeará para o posto de ministro do Turismo um apadrinhado de
Renan. Por ora, está na fila o deputado alagoano Marx Beltrão, réu no
STF.
Na noite de terça, em conversa com o senador Raimundo Lira,
presidente da Comissão do Impeachment, Lewandowski disse que o
julgamento de Dilma pode até começar no dia 25, como reivindicou Renan.
Mas não autorizará sessões no final de semana. Para sorte de Temer, o
presidente do Supremo limitou o número de testemunhas a serem ouvidas no
plenário a dez —cinco de cada lado. Assim, a pressa talvez resulte num
encurtamento do processo em dois ou três dias. Parece pouco. Sobretudo
levando-se em conta o déficit estético do enredo. Na Câmara, Temer
prevaleceu abraçado a Eduardo Cunha. No Senado, acaba de atracar-se
voluntariamente a Renan Calheiros. Quem olha de longe fica com a
impressão de que o novo governo é apenas um cadáver do velho.
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