*Texto de Alex Solnik para o 247-
Um dos equívocos dos petistas e da defesa de Dilma foi afirmar que
Eduardo Cunha deflagrou o impeachment por vingança no momento em que o
PT se recusou a ficar ao seu lado no julgamento de cassação que ele
enfrenta no conselho de ética.
O motivo principal, e que está cada vez mais claro, não foi vingança,
mas sim uma clara e desesperada tentativa de se proteger e proteger a
cúpula peemedebista do furor da Lava Jato. Por esse motivo ele se
transformou no homem mais poderoso e mais temido de Brasília.
A conspiração contra Dilma conseguiu a adesão majoritária da Câmara e
do Senado porque a promessa que foi oferecida a deputados e senadores é
que derrubado o seu governo e empossado o de Temer haveria chance de
todos escaparem da Lava Jato. Por menor que fosse, seria a última.
Continuar com Dilma no poder seria caminhar para a guilhotina.
O início do processo de cassação de Cunha coincide com o início do
processo de impeachment. De lá para cá, Dilma foi afastada a toque de
caixa de suas funções, pela Câmara e pelo Senado, e foi confinada numa
"prisão dourada" chamada Palácio da Alvorada, mas a cassação de Cunha
ainda nem foi votada.
O estranho poder de resistência de Cunha se explica porque o mesmo conluio que derrubou Dilma dá sustentação a ele.
Nem o afastamento de suas funções como deputado e como presidente da
Câmara, determinado pelo STF foi suficiente para diminuir o ímpeto do
apoio a Cunha por uma razão evidente e não é por gratidão a ele, mas por
medo.
Seus apoiadores, a começar do presidente interino, têm mais medo dele
do que do STF. Preferem correr o risco de acobertar aquele que Janot
chamou de "delinquente" do que abandoná-lo à própria sorte. Isso porque,
tal como derrubou o governo Dilma ele pode derrubar a Câmara, o Senado e
o governo provisório.
Todos que o sustentam, liderados pela cúpula do PMDB vivem o dia a
dia na ilusão de que, enquanto o mantêm em sua residência oficial de
Brasília, onde desfruta de mordomia de 500 mil reais por mês em
serviçais e serviços e, portanto, longe de Curitiba, ficam mais
distantes do pesadelo que tomará conta de todos quando for decretada sua
cassação e, em consequência, a sua prisão, preventiva ou provisória.
Não é só ele quem luta com todas as forças para não ser cassado, há
oito meses, mas todos aqueles cujos nomes circulam em várias listas de
beneficiários do esquema sujo criado dentro da Petrobrás porque sabem
que, enquanto o apoiam não correm perigo, mas, no momento em que ele
perder sua última batalha, no momento de sua batalha de Waterloo, todos
perderão.
Eles fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que não serão salvos
por ele se ele for transferido para Curitiba. Serão, isto sim, seus
alvos.
Fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que ele não terá nenhum
escrúpulo em contar tudo o que sabe a respeito deles para abater a sua
pena.
Toda a Brasília sabe que Cunha é o verdadeiro homem-bomba prestes a
explodir. As explosivas gravações e as delações de Sérgio Machado e de
seus filhos vão parecer brincadeira de criança quando, por hipótese,
Cunha estiver atrás das grades e, para livrar a sua cara vai apontar
todas as caras e mãos sujas de petróleo que até agora lhe prestam
reverência.
O divisor de águas será o dia da sua cassação. Rápido no gatilho como
é, é bem provável que se antecipe ao pedido de prisão – como fez Sérgio
Machado - e resolva se transformar no maior delator premiado da
história da Lava Jato. E começar a contar a verdadeira história do
impeachment.
E então Brasília vai tremer.
*Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como
Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de
treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do
Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly"
(lançamento setembro 2016).
Nenhum comentário:
Postar um comentário