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sábado, 11 de junho de 2016

O dia em que Brasília vai tremer

*Texto de Alex Solnik para o 247-

Um dos equívocos dos petistas e da defesa de Dilma foi afirmar que Eduardo Cunha deflagrou o impeachment por vingança no momento em que o PT se recusou a ficar ao seu lado no julgamento de cassação que ele enfrenta no conselho de ética.
O motivo principal, e que está cada vez mais claro, não foi vingança, mas sim uma clara e desesperada tentativa de se proteger e proteger a cúpula peemedebista do furor da Lava Jato. Por esse motivo ele se transformou no homem mais poderoso e mais temido de Brasília.
A conspiração contra Dilma conseguiu a adesão majoritária da Câmara e do Senado porque a promessa que foi oferecida a deputados e senadores é que derrubado o seu governo e empossado o de Temer haveria chance de todos escaparem da Lava Jato. Por menor que fosse, seria a última. Continuar com Dilma no poder seria caminhar para a guilhotina.
O início do processo de cassação de Cunha coincide com o início do processo de impeachment. De lá para cá, Dilma foi afastada a toque de caixa de suas funções, pela Câmara e pelo Senado, e foi confinada numa "prisão dourada" chamada Palácio da Alvorada, mas a cassação de Cunha ainda nem foi votada.
O estranho poder de resistência de Cunha se explica porque o mesmo conluio que derrubou Dilma dá sustentação a ele.
Nem o afastamento de suas funções como deputado e como presidente da Câmara, determinado pelo STF foi suficiente para diminuir o ímpeto do apoio a Cunha por uma razão evidente e não é por gratidão a ele, mas por medo.
Seus apoiadores, a começar do presidente interino, têm mais medo dele do que do STF. Preferem correr o risco de acobertar aquele que Janot chamou de "delinquente" do que abandoná-lo à própria sorte. Isso porque, tal como derrubou o governo Dilma ele pode derrubar a Câmara, o Senado e o governo provisório.
Todos que o sustentam, liderados pela cúpula do PMDB vivem o dia a dia na ilusão de que, enquanto o mantêm em sua residência oficial de Brasília, onde desfruta de mordomia de 500 mil reais por mês em serviçais e serviços e, portanto, longe de Curitiba, ficam mais distantes do pesadelo que tomará conta de todos quando for decretada sua cassação e, em consequência, a sua prisão, preventiva ou provisória.
Não é só ele quem luta com todas as forças para não ser cassado, há oito meses, mas todos aqueles cujos nomes circulam em várias listas de beneficiários do esquema sujo criado dentro da Petrobrás porque sabem que, enquanto o apoiam não correm perigo, mas, no momento em que ele perder sua última batalha, no momento de sua batalha de Waterloo, todos perderão.
Eles fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que não serão salvos por ele se ele for transferido para Curitiba. Serão, isto sim, seus alvos.
Fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que ele não terá nenhum escrúpulo em contar tudo o que sabe a respeito deles para abater a sua pena.
Toda a Brasília sabe que Cunha é o verdadeiro homem-bomba prestes a explodir. As explosivas gravações e as delações de Sérgio Machado e de seus filhos vão parecer brincadeira de criança quando, por hipótese, Cunha estiver atrás das grades e, para livrar a sua cara vai apontar todas as caras e mãos sujas de petróleo que até agora lhe prestam reverência.
O divisor de águas será o dia da sua cassação. Rápido no gatilho como é, é bem provável que se antecipe ao pedido de prisão – como fez Sérgio Machado - e resolva se transformar no maior delator premiado da história da Lava Jato. E começar a contar a verdadeira história do impeachment.
E então Brasília vai tremer.
*Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).

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