Há algum tempo o Brasil já sabe que
tanto o procurador-geral Rodrigo Janot como o juiz Sergio Moro acertam
seus relógios com o tempo político.
Esta cronometria reaparece agora na
divulgação da gravação da conversa entre o senador e ex-ministro Romero
Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado. A conversa expõe a
trama do impeachment como operação destinada a produzir, com a troca de
Dilma por Temer, as condições para um acordão para estancar a “sangria”
da classe política pelas investigações da Lava Jato. A conversa foi
gravada no início de março e chegou no mesmo mês às mãos de Janot. Ele
não se incomodou com o que ouviu, inclusive com este trecho em que Jucá
diz a Machado: "Se é político, como é a política. Tem que resolver esta porra (sic). Tem que mudar o governo para poder estancar esta sangria."
Janot sabe ler, ouvir e compreender.
Ninguém duvida de seu QI. Se quisesse, poderia ter agido para impedir
que a trama fosse consumada e Dilma afastada pela acusação, que não
convenceu o mundo, de ter cometido crime de responsabilidade com
medidas contábeis: pedaladas e decretos.
Se alguns senadores – não falemos em
deputados pois boa parte deles não desobedeceria a Eduardo Cunha –
tivessem tido conhecimento das conversas Jucá-Machado antes do dia 11 de
maio, poderiam ter mudado seu voto. E indicador disso é o fato de que
Cristovam Buarque (PPS-DF) e José Antonio Reguffe (Rede-DF), que votaram
a favor da abertura de processo que levou ao afastamento de Dilma do
cargo, foram signatários, com outros doze senadores (do PT, PDT e PC do
B), da representação ao PGR pedindo abertura de investigação sobre o
conteúdo da conversa.
O relógio de Janot acertou-se com
precisão à marcha do impeachment no Congresso. A gravação ficou guardada
até passar o dia 17 de abril, quando a Câmara aprovou a autorização da
abertura do processo, e até 11 de maio, quando houve a votação do
Senado. E foi aparecer agora, dez dias depois da posse de Temer.
Em muitas ocasiões o relógio do
procurador exibiu sua fina sintonia política. Naquela mesma semana que
antecedeu a votação na Câmara, sete políticos do PP foram indiciados. E o
partido, que poderia ter entrado para o governo e garantido os votos
que faltavam a Dilma, desistiu dos ministérios que receberia e acabou
optando pela outra operação – a troca de governo como medida para
estancar a sangria.
O relógio de Sergio Moro tem
sintonia finíssima e naqueles mesmos dias mostrou sua perfeição ao fazer
vazar (com autorização da Janot, que estava na Europa) o áudio da
conversa Lula-Dilma que fez a crise politica ferver e levou ao
impedimento da posse de Lula como ministro, num momento crucial de
montagem da defesa do governo, por força da liminar do ministro Gilmar
Mendes. Afastada Dilma, o STF decidiu que a ação perdeu o objeto, não
sendo necessário julgar a liminar. Os advogados de Lula ontem
contestaram a ordem de arquivo: querem o reconhecimento de que ele foi
ministro de Dilma desde a nomeação até o afastamento dela, não tendo
podido apenas exercer o cargo por decisão do STF. Não por capricho mas
porque isso tem consequências jurídicas.
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