Por Jeferson Miola, e publicado originalmente no 247
A conversa entre os delinqüentes
Sérgio Machado e o ainda senador Romero Jucá é a revelação mais completa
– até o momento, porque certamente surgirão outras revelações ainda
mais elucidativas – sobre a conspiração montada para a perpetração do
golpe de Estado no Brasil através da farsa do impeachment. De tão minuciosa e tão rica em detalhes, esta peça permite realizar uma profunda autópsia do golpe.
Aécio Neves, um campeão de menções
em listas de corrupção e depoimentos de corruptos – e campeão de
investigações abafadas e engavetadas – por óbvio não ficaria fora da
conversa dos dois delinqüentes que hoje estão no PMDB, mas já
pertenceram aos quadros do PSDB.
Comentando a inviabilidade eleitoral de Aécio devido ao envolvimento do presidente do PSDB em corrupção, Sérgio Machado disse: “O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...”. Jucá responde, concordando: “É, a gente viveu tudo”.
De acordo com eles, todo mundo conhece “o esquema do Aécio”. Mas, incrivelmente, Gilmar Mendes age como se não conhecesse “o esquema do Aécio”.
É fato notório que as citações ao
Aécio, a outros tucanos e ao PSDB em várias denúncias de corrupção
raramente culminam na abertura de processos criminais na Polícia
Federal, no Ministério Público e no Judiciário. E, quando por sorte são
abertas, em quase 100% dos casos as investigações são arquivadas. Em
março passado, por exemplo, o sortudo Aécio Neves ganhou o prêmio de
arquivamento da denúncia do doleiro Alberto Youssef contra ele.
Gilmar Mendes é recordista em
arquivamentos e abafamentos de escândalos envolvendo os tucanos e as
pessoas, os empresários e políticos aliados do PSDB. Ele também tranca a
votação de processos por mais de ano quando a matéria contraria
interesses tucanos como, por exemplo, na ADIN que proibia o
financiamento empresarial de eleições.
No curto intervalo de quatro dias,
entretanto, este mesmo Gilmar agiu com uma rapidez incrível para
favorecer Aécio. E fez isso em duas decisões: no dia 12 de maio, o juiz
tucano do STF suspendeu a coleta de provas de uma investigação sobre “o esquema do Aécio” em Furnas e impediu os depoimentos do Aécio e de testemunhas do caso.
No dia 16 de maio, Gilmar devolveu o
processo do Aécio à Procuradoria da República para reavaliar se caberia
a denúncia; porque ele, Gilmar, considerou “não haver elementos novos que justificassem a continuação da investigação” [sic].
Se, como perguntam os delinqüentes “Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio?”, por que só Gilmar Mendes não conhece “o esquema do Aécio”? O que mais falta a Gilmar Mendes, além de decência e imparcialidade, para que ele passe, definitivamente, a conhecer “o esquema do Aécio”?
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