Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O
PP exigiu o Ministério da Saúde para votar contra o impeachment. Não
levou. Depois exigiu o Ministério da Saúde para votar a favor do
impeachment. Levou.
A
junta de salvação nacional entregou a pasta ao deputado Ricardo Barros.
Ele não é médico, mas parece entender de operações. É tesoureiro do
partido que tem mais políticos investigados pela Lava Jato.
O novo ministro estreou com uma polêmica. Em entrevista à Folha,
disse que é preciso rever o tamanho do SUS. A repórter Claudia Collucci
lembrou que o direito universal à saúde está previsto na Constituição.
"Nós
não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição
determina", respondeu Barros. Faltou explicar se a ideia é fechar
hospitais ou cortar o fornecimento de remédios aos doentes.
Repreendido
pelo Planalto, o ministro voltou atrás. Passou a dizer que o SUS é uma
"garantia absoluta" do cidadão. No dia seguinte, novo susto. Barros
declarou que não pretende fiscalizar a qualidade dos planos de saúde.
"Ninguém é obrigado a contratar. Não cabe ao ministério controlar isso",
afirmou, ao jornal "O Estado de S. Paulo".
O
ministro parece indiferente aos pacientes, mas demonstra sensibilidade
com os financiadores de campanha. Seu maior doador preside uma
administradora de planos de saúde. A empresa é registrada na ANS, a
agência federal criada para fiscalizar o setor. Será que ele já ouviu
falar?
As
ideias de Barros têm assustado profissionais da saúde. Em nota, o
conselho da Fundação Oswaldo Cruz afirmou que suas declarações causam
"profunda preocupação".
Para
a professora Ligia Bahia, da UFRJ, "um bom ministro precisa pedir
recursos e ser solidário com o sofrimento do povo". "Ele está fazendo o
contrário", critica. A doutora já andava desanimada com os rumos do
governo Dilma. Agora define o início da gestão Temer como "um desastre
total". "Já é possível ver um golpe no SUS", alerta.
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