O epitáfio de Eduardo Cunha é estampado em editoriais que alteiam a voz do moralismo para esconderem a cumplicidade do defunto
Entre mortos e afogados, flutua impávida a estrutura do poder real
Luiz Gonzaga Belluzzo - CartaCapital
A produção nacional de cadáveres vai de vento em popa. Não falo dos milhares sucumbidos diante da violência explícita ou implícita que toma conta do País. Neste momento, o sistema de poder e do dinheiro, a fonte de toda a violência, prepara as exéquias de mais um cadáver notório.
O epitáfio de Eduardo Cunha é estampado em editoriais que alteiam a voz do moralismo para esconder a cumplicidade do defunto, um servidor fiel daqueles que agora promovem a sua liquidação moral e política. Diria o personagem de Lampedusa no Leopardo: “É preciso mudar para que tudo continue como está”. O transformismo à brasileira é mais cruel: “É preciso assassinar os súditos mais nobres para preservar a reprodução das engrenagens do poder”. Os porta-vozes do establishment nativo se encarregam do conhecido esporte, o chute ao cadáver.
No Congresso e fora dele, os maganos e maganões da República já preparam requintados pontapés na carcaça de quem, afinal, serviu e serve tão bem aos seus interesses e apetites. Foi assim, diga-se, que escaparam do naufrágio do regime militar e foram entronizados na democracia como corifeus das liberdades.
Leia mais:Chute ao cadáver
Nenhum comentário:
Postar um comentário