Folha de S.Paulo – Gabriel Mascarenhas e Ranier Bragon
Alvo
de pelo menos quatro inquéritos criminais, entre eles por suspeita de
formação de quadrilha e tentativa de homicídio, o deputado André Moura
(PSC-SE) iniciou seu voto em favor do impeachment da presidente Dilma
Rousseff afirmando que o país vive o maior escândalo de corrupção da
história.
Um
dos mais fiéis aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), o deputado sergipano também é investigado por suposto desvio
de recursos públicos.
Pelos
menos 7 dos 70 parlamentares que citaram "corrupção" na tribuna durante
a sessão de domingo respondem a inquéritos ou ações penais no STF
(Supremo Tribunal Federal) que miram em delitos graves como corrupção e
desperdício do dinheiro público.
O caso da deputada Raquel
Muniz (PSD-MG) é emblemático. Favorável ao impeachment e investigada
por crime contra a fé pública, ela disse no plenário que o Brasil tem
jeito e deu como exemplo de correção seu marido, o prefeito de Montes
Claros (MG), Ruy Muniz.
Menos
de 24 horas depois, Muniz foi preso sob a acusação de tentar
inviabilizar o funcionamento de hospitais públicos e filantrópicos
concorrentes da unidade de saúde que pertence à família dele.
Alberto
Fraga (DEM) encabeçou a lista dos mais votados no Distrito Federal em
2014. Da tribuna, ele bradou: "Se 342 votos eu tivesse, 342 votos eu
daria para salvar o país dessa corrupção, dessa ladroagem que se chama
PT. Meu voto é "sim".
No
STF, Fraga aparece como suspeito de ter recebido R$ 350 mil em propina
quando era secretário de Transportes do DF, durante a gestão do
governador José Roberto Arruda, preso pela PF em 2010.
Eleito
pelo PSB da Paraíba, Rômulo Gouvêia afirmou, na sessão do fim de
semana, que a Câmara estava votando "o combate à corrupção". "É o fim da
corrupção", decretou.
Gouveia
responde a uma ação penal sob a acusação de ter dispensado de forma
ilegal licitação para contratação de uma empresa de publicidade quando
presidia a Assembleia Legislativa da Paraíba, em 2003.
Ele
também é um dos alvos de inquérito do STF, em segredo de Justiça, que
investiga fraude no programa de internet gratuita no Estado. O contrato
sob suspeita teve verba destinada pelo deputado.
Já Duarte Nogueira (PSDB-SP) não figura na relação de alvos do Supremo, mas em janeiro foi apontado pelo
ex-presidente da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) Cássio
Izaque Chebab como beneficiário da propina do esquema da merenda
escolar.
Ele
justificou seu voto em favor do afastamento de Dilma "pelo reencontro
desse país maravilhoso com a esperança, porque não aguenta mais tanta
afronta à Constituição, mentiras, impunidade e corrupção".
Um
dos que pregaram a extinção "do projeto de poder e de corrupção"
integra a lista de congressistas da Operação Lava Jato. Trata-se de Luiz
Carlos Heinze (PP-RS).
O
doleiro Alberto Yousseff citou o nome do parlamentar como um dos
possíveis destinatários do suborno pago ao líder do PP à época. O
dinheiro seria proveniente de desvios na Petrobras.
Não
foi só a ala anti-Dilma que levantou a bandeira do fim dos malfeitos. A
petista Érika Kokay (DF) afirmou votar contra a "corrupção que está
sentada na presidência desta sessão [se referindo a Cunha]".
Ela responde no STF a inquérito por lavagem, corrupção e formação de quadrilha.
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