Texto de Aderbal Freire-Filho
Diretor e autor teatral, ator e apresentador
Era uma rádio no nordeste, fim dos anos sessenta e, na onda
dos festivais de música popular, decidimos fazer lá também nosso
festival. Uns jovens desconhecidos, a maioria deles universitários,
começaram a se inscrever: Rodger e Dedé (Física), Belchior (Medicina),
Fausto Nilo (Arquitetura), Fagner, Jorge Melo, etc. Uma tarde, apareceu
lá um cara com uma história no mínimo curiosa. Dizia que uma música de
grande sucesso da época – não lembro se do Roberto Carlos, do Altemar
Dutra – era composição sua e tinha sido plagiada, mais até, tinha sido
roubada. Era difícil acreditar, mas ele garantiu, cantarolou a música,
contou uma história e, para que não duvidássemos, mostrou outra música,
também conhecida e que seria dele também. O festival era a oportunidade
de mostrar outras músicas suas e desmascarar tudo.
E se fosse verdade? Ponto pro festival. Marcamos uma reunião na sala
da direção para saber mais detalhes, provas, etc. Ele começou nos
assustando com outras denuncias, que Caetano, que Chico, que Carlinhos
Lyra... Enfim, em menos de 10 minutos já dava pra ver que o cara era
maluco. Mas, só pra terminar, um dos radialistas que estava ali
perguntou: você conhece All The Way, com o Frank Sinatra? É minha, ele
respondeu. E completou: todas as músicas são minhas. Bom, deixamos o
cara em paz, ele inscreveu lá duas ou três músicas fuleiras dele mesmo
(aliás, nada prova que essas eram dele mesmo) e ficou por isso. Depois,
ele passou a aparecer vez por outra na rádio, onde ficou conhecido como O
Compositor. E a gente gostava de dizer sou amigo d'O Compositor, O
Compositor te mandou um abraço...
Lembro dele agora a propósito do Lula, O Bandido. A diferença é que
todos estão levando a coisa a sério. Então, se é assim, porque não
prendem logo esse homem?
Lula, como se sabe, recebeu um terço da propina de Furnas. Depois,
mandou sua amante com o filho (dele, DNA à parte) para fora do país e
acertou com ela uma mesada, a ser paga pela empresa Brasif, que no seu
governo obteve todas as concessões de free-shops em aeroportos, como
nunca antes na história desse país. Free-shops nos aeroportos, Lula
reservou o avião do governo do Estado de São Paulo para que sua mulher
fizesse as viagens que quisesse, quando quisesse. Mas isso era pouco:
Lula mandou sua mulher aprender tênis numa academia na Flórida e
contratou um professor a quem pagou 59 mil dólares pelas aulas. Como não
dava para mandar esse dinheiro daqui, foi preciso abrir contas na
Suíça. Bom, Lula é um homem honrado (ele diz), não tem contas na Suíça, é
apenas "usufrutuário em vida de ativos geridos por um truste", qualquer
coisa assim. Em São Paulo, Lula fez a farra. Sua última façanha foi
mais uma prova de que comunistas matam criancinhas. Os tempos são
outros, o estilo é outro: roubar merenda escolar. Armou com o presidente
da Assembleia Legislativa, também conhecido por Lula, e com Lula, chefe
de Gabinete do governador Geraldo Lula da Silva, para superfaturar as
compras de frutas e legumes e cobrar propinas da Cooperativa dos
Produtores. Antes, numa jogada altamente internacional, envolvendo a
Alemanha (Siemens), Canadá (Bombardier), França (Alstom) e Espanha
(CAF), superfaturou os preços dos trens do metrô. É preciso dizer que
Lula fez tudo isso em São Paulo, apesar da alternância de poder que
acontece lá, como querem todos os partidos da oposição e toda a
imprensa. No governo desse Estado, eleito em 1995, Luis Inácio Covas foi
sucedido por Mário Lula Covas, depois por Lula Alckmin, depois por
Geraldo Lula da Silva, em seguida por José Serra Lula da Silva e
novamente por Geraldo Lula, mais de 20 anos de alternância, isto é,
Lulas para todos os gostos.
Apesar das evidências, Lula nega absolutamente tudo e, com mais
veemência, seu envolvimento em uma operação de tráfico de cocaína,
documentada, filmada e pesada (450 quilos de pasta base). A cocaína era
transportada por um helicóptero de um deputado amigo de Lula, do partido
do Paulinho Lula, e descarregou a droga em uma de suas fazendas
mineiras. Ele tem outras fazendas em Minas, assim como sua família,
sendo a mais conhecida a de um tio, onde construiu um aeroporto com
dinheiro público, para uso privado desse tio e seu.
E isso é uma lista pequena. O que dizer dos famosos filhos de Lula
beneficiados nas privatizações (genros inclusive), feiras
internacionais, empregos onde nunca aparecem, etc. A meritocracia de
Lula é clara. Por exemplo, a irmã da sua ex-amante fez por merecer um
emprego no gabinete de um senador aliado, com salário integral e
ausência integral (possivelmente lanche a domicilio com pão integral,
ainda sem provas, mas com indícios, evidências, um vizinho viu...).
Enfim, porque não prendem esse homem, com tantos delitos?
Perdem tempo com bobagens, como se nós, da velha rádio nordestina,
tivéssemos perdido tempo querendo investigar se as três músicas fuleiras
d'O Compositor seriam ou não dele. Ficam querendo saber se uma
empreiteira pagou a reforma de um sítio que ele frequenta (e que pode
ser dele!!!) e se outra pagou a reforma de um apartamento que ele diz
que não é dele (mas pode ser!!!) e gastam munição bombardeando o bote de
dona Marisa Letícia. Perda de tempo: d. Marisa está estudando tênis na
Flórida e o bote afundou em Parati (ou vice-versa).
O Merval Pereira, em quem todos acreditamos, garante: O Bandido é
ele. Textualmente: "enfim foi descoberto o chefe da organização
criminosa que assaltou o Brasil". Meu amigo Merval atesta o que não
podíamos atestar, nós, pobres radialistas provincianos, a respeito d'O
Compositor: é verdade, tudo foi ele quem fez, O Bandido. E não essas
três musiquinhas de merda, esses pedalinhos, essas caixas de cerveja,
essa churrasqueira. Será que cometemos uma tremenda injustiça com O
Compositor, não vendo que pelas três composições tidas como dele, dava
pra atestar que ele era o autor de All The Way e de todas, absolutamente
todas as músicas?
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