Do 247, Tereza Cruvinel
Somente agora, com a Operação Acarajé, o governo passa a
identificar a Lava Jato como tropa de elite da ofensiva
político-jurídico-midiática para destituir a presidente Dilma e banir o
ex-presidente Lula da vida eleitoral. Não foi a ficha que demorou para
cair. O que está claro para o governo e todo mundo é que pode estar se
aproximando o golpe final. Da prisão de João Santana pode vir o
combustível que faltava tanto para o impeachment como para a cassação de
Dilma-Temer via TSE. E na esteira, virão graves consequências para uma
economia refém da crise política.
Se o Juiz Sergio Moro e seus parceiros preocupam-se com os destinos
nacionais, e não apenas em prender empresários e agentes políticos, é
chegada a hora da responsabilidade. Não podem manter indefinidamente o
Brasil no pelourinho. Para evitar o desmanche econômico, o caso de
João Santana teria que ser resolvido com maior rapidez, produzindo
respostas, sejam quais forem, que reduzam a incerteza. Enquanto ela
persistir, o ambiente econômico não vai melhorar. Não por acaso a
última agência de risco que ainda dava ao Brasil o grau de investimento,
a Moody's, retirou-o na esteira da prisão do publicitário e da piora
das expectativas políticas. A Lava Jato, que tudo pode e tudo descobre,
não precisa deixar Santana mofando na cadeia um ano para esclarecer o
enigma dos recursos que ele recebeu no exterior. Se eles dizem respeito
apenas a trabalhos feito no exterior, como assegurou seu advogado (e
teriam sido pagos de forma irregular) ou se estão relacionados a
campanhas do PT, dentro do Brasil (Lula, Dilma e Haddad). Se não estão,
isso precisa ser dito em alto e bom som, para os paneleiros ouvirem. Se a
campanha de Dilma tiver cometido crime eleitoral, o TSE dará o golpe
final.
O que não é justo para com o Brasil e sua combalida situação
econômica é a produção diária de manchetes sobre o “marqueteiro do PT”,
sugerindo que as campanhas petistas o pagaram com dinheiro de
corrupção, sem apresentar prova disso. O que o caudaloso noticiário
despertou nos agentes econômicos foi mais interrogações sobre o rumo do
país. Haverá governo até quando? E o que poderá nestas condições fazer o
governo? E depois, o que virá? O repique da insegurança trouxe o
rebaixamento pela Moody's, a nova subida do dólar, depois de uma
inflexão, novas quedas na bolsa, depois de um ensaio de recuperação,
entre outros sinais do efeito Acarajé.
O desmanche econômico não é obra exclusiva da Lava Jato. O governo
cometeu erros gerenciais, já reconheceu isso, excedendo-se nas políticas
anti-cíclicas. Mas poderia tê-los corrigido em tempo se não tivesse
sido sitiado. Há mais de dois anos a Lava Jato alimenta simultaneamente a
crise política e o esfarelamento da economia. Há mais de dois anos
assistimos à erosão do Estado Democrático de Direito. Prisões
preventivas são prolongadas num jogo de tortura moral para a obtenção de
delações, sob o argumento de que o empresário preso pode fugir,
destruir provas, impedir investigações. E assim foram desestruturadas a
Petrobrás, as grandes empreiteiras e um banco forte como o Pactual. Mas
quem, neste país, tem poder para impedir as investigações da Lava Jato?
Quem ousaria? Nem governo, nem Supremo, nem CNJ, nem OAB, ninguém se
levantou contra a santa comunidade de Curitiba, temendo ser acusado de
heresia pró-corrupção.
Neste tempo todo o governo sangrou, perdeu a iniciativa e o
Congresso surtou, enquanto a economia ia se desmilinguindo. Uma coisa
puxando a outra. Agora a Lava Jato pôs a mão num troféu e o está
exibindo com euforia. Mas o Brasil não aguenta mais esta novela sem
epílogo certo e sem data para terminar.
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