Helena Sthephanowitz, da RBA - Tem
um buraco mal explicado na operação Lava Jato. Trata-se de Carlos
Alexandre de Souza Rocha, apelidado de Ceará, amigo do doleiro Alberto
Youssef há 20 anos. Foi preso em Balneário Camboriú (SC) na primeira
fase da Operação Lava Jato, em 17 de março de 2014, acusado de ser
doleiro pelas conversas telefônicas grampeadas legalmente.
No mês seguinte, em 22 de abril de 2014, o Ministério Público Federal
do Paraná apresentou denúncia contra Ceará por apenas um crime: operar,
sem a devida autorização, instituição financeira de câmbio, com pena
prevista de um a quatro anos de reclusão. Não houve denúncia por
formação de quadrilha ou organização criminosa, nem por lavagem de
dinheiro.
O MPF-PR pediu ainda na denúncia o pagamento mínimo de multa de R$ 5
milhões por danos causados ao sistema financeiro e econômico. No dia
seguinte, a denúncia foi aceita pelo juiz Sérgio Moro. Em seu despacho, o
magistrado soltou Ceará da prisão preventiva, colocando-o em liberdade
com medidas restritivas, tais como retenção do passaporte, proibição de
contato com Alberto Youssef, ter de avisar ao juízo em caso de mudança
de endereço etc.
Entre abril e agosto de 2014, em vez dos já rotineiros acordos de
delação premiada, a defesa de Ceará negociou com o MPF-PR e conseguiu
acordo para suspensão condicional do processo, ou seja, em vez de ir a
julgamento, cumpriria medidas alternativas em liberdade. Isso sem ter de
delatar nada. O juiz Sérgio Moro homologou o acordo em audiência do dia
4 de setembro de 2014. Em vez dos R$ 5 milhões pedidos inicialmente
pelo MPF-PR, o valor ficou reduzido para R$ 100 mil, pagos em cinco
parcelas mensais de R$ 20 mil, após cinco meses de carência. O acordo
incluiu a liberação de bens apreendidos, sendo dois carros e quatro
relógios de luxo da marca Hublot, que chegam a custar US$ 20 mil cada.
Pelo acordo – lembrando que não era de delação –, o processo de Ceará
ficou suspenso e, após dois anos, se ele andar na linha, será extinto.
Sem delatar ninguém.
Passados nove meses depois de livrar-se da Vara de Curitiba, sem
condenação, sem ficar preso, e em silêncio sem delatar ninguém, ainda
não se sabe exatamente por quais circunstâncias Ceará prestou 19
depoimentos sigilosos em Brasília entre 29 de junho e 2 de julho de
2015, em acordo de delação premiada na Procuradoria-Geral da República,
em homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki.
Revelou que carregava dinheiro vivo a serviço Alberto Youssef para
intermediários que repassariam a alguns políticos ilustres, o mais
notório é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), citado como suposto
destinatário de uma propina de R$ 300 mil paga pela empreiteira UTC em
2013.
No anexo 12 da delação, Ceará conta que, por volta de setembro ou
outubro de 2013, Youssef o mandou entregar R$ 300 mil no escritório da
UTC no Rio de Janeiro para um diretor de nome Miranda, que estava
ansioso e desabafou, travando o diálogo:
Miranda: – Rapaz, esse dinheiro estava sendo muito cobrado e tal.
Ceará: – Por quem, doutor?
Miranda: – Aécio Neves.
Ceará: – Vocês dão dinheiro aqui para a oposição?
Miranda: – Ceará, aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo.
Segundo Ceará, Miranda disse que Aécio era "o mais chato para cobrar e que estava em cima dele atrás desse dinheiro".
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