Em 1991, só alguns dias depois de tomar posse no Governo do Rio de
Janeiro, Leonel Brizola compareceu a uma assembléia do Sepe – o
sindicato dos professores do Estado – para discutir a pauta de
reivindicações da categoria diante do caos financeiro deixado por
Moreira Franco, inclusive com uma cabulosa “confissão de dívida” com as
empreiteiras do Metrô.
Mal ele entrou na Concha Acústica da UERJ, o grupo mais radical da militância sindical explodiu numa sonora vaia.
Brizola ouviu, sorriu, deu meia volta e foi embora.
Depois, explicou aos repórteres: o problema não eram as divergências
que surgissem do diálogo que, abertamente, estava disposto a travar,
numa atitude – salvo engano meu – inédita entre os governantes: ir a uma
assembléia de servidores tratar de suas reivindicações. O problema,
dizia ele, era o método: que vaiava antes de sequer ouvir, não queria
nem ouvir, nem falar, apenas debochar.
Era inevitável que a cena me viesse à cabeça hoje, com a grosseria
dos tucanos e de seus aliados ao vaiarem Dilma Rousseff em sua ida ao
Congresso para a abertura do ano legislativo.
Com a diferença que são parte de um poder da República.
Não querem ouvir, não querem falar, querem apenas debochar, enquanto o país se debate em dificuldades terríveis.
As cenas são fartas em mostrar deputados amolecados, de bonequinhos infláveis, num comportamento de fazer corar adolescentes.
É o “efeito Aécio” que se espalhou na política.
No Congresso e na mídia, estamos reduzidos à estatura de moleques.
Os jornais parece que se regem pelos hidrófobos frequentadores de seus portais.
A Folha investiga um bote de lata.
O Globo, uma cota de um “pombal” no Guarujá.
O Estadão virou um boletim oficial dos vazamentos,
Ignoram que, se desonesto, Lula poderia ter estalado os dedos,
tamanho era seu prestígio, e feito aparecer apartamentos e lanchas
quanto os quisesse.
Todos se lixam para o fato de que o país e o mundo estão em grave
crise e que isso significa que todos os dias gente perca o emprego e as
condições de sustentar suas famílias.
Tentam ridicularizar – e há meses – qualquer tentativa do governo de dialogar.
O diálogo é bom, positivo e civilizado em quase todas as circunstâncias, exceto numa.
Quando o desejo de fazê-lo torna excessivamente tímido, além do
aceitável, o exercício de fazer o que é o dever de quem tem a delegação
do poder popular.
Descobrimos que Kim Kataguiri, em espírito, foi alçado não apenas a colunista da Folha, mas a líder da oposição parlamentar.
Não surpreende que outra manobra tenha levado à estaca zero o processo disciplinar de Eduardo Cunha num parlamento assim.
É mais um poder da República que desanda para a molecagem e para brincadeiras de marketing.
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