Texto de Ribamar Fonseca é Jornalista e escritor e publicado no portal 247
A Operação Lava-Jato, criada teoricamente para combater a corrupção,
acabou extrapolando a sua finalidade e interferindo na vida da Nação,
transformando-se na principal responsável pela grave crise de desemprego
que assola o Brasil. Além de afetar diretamente a indústria da
construção civil, uma das maiores empregadoras do país, praticamente
desmontou a indústria naval, reativada durante o governo Lula, e colocou
milhares de trabalhadores no olho da rua. Os reflexos de suas ações na
economia são desastrosos, contribuindo decisivamente para a recessão em
que o país se debate. Constata-se que na sua ânsia de mostrar serviço e
ganhar notoriedade prendendo não apenas os corruptos, mas também os
corruptores, donos das maiores empresas de construção do Brasil, os
condutores da Lava-Jato não tiveram o mínimo de preocupação com os
milhares de trabalhadores dessas empresas, que se tornaram as suas
maiores vítimas.
Conforme levantamento do jornal "Valor Econômico", o fim de grandes
obras no Rio de Janeiro, Pará, Bahia e Pernambuco provocou a demissão de
milhares de trabalhadores em Itaboraí, Altamira, Maragogipe e Ipojuca,
além de criar sérias dificuldades financeiras para as prefeituras desses
municípios devido à queda na arrecadação do ISS (Imposto sobre
Serviços), o que produziu um efeito cascata, já que obrigou a demissão
também de servidores municipais. O jornal, a exemplo de todos os
prejudicados, culpa a Lava-Jato por essa onda de desemprego. Os
condutores da operação, no entanto, revelam-se indiferentes à situação
desses milhares de trabalhadores que, para não morrer de fome, buscam
alternativas de sobrevivência, como foi o caso do engenheiro Antonio
Carlos Mitisuke Seirio, que se tornou motorista de táxi, conforme
reportagem da "Folha".
Segundo o jornalão paulista, um estudo da Federação Nacional dos
Engenheiros revela que em 2014 foram contratados cerca de 52 mil
engenheiros e demitidos 55 mil e que, de acordo com dados do Ministério
do Trabalho, apenas em 2015 a Construção Civil fechou 416,9 mil vagas.
Como todas as empreiteiras nacionais foram atingidas pela Operação
Lava-Jato, os setores de construção e petróleo enfrentam a maior crise
da sua história.
O governo da presidenta Dilma Rousseff vem tentando amenizar o
problema, mediante acordos de leniência, para preservar os empregos dos
trabalhadores, mas membros do Ministério Público, como o procurador
Carlos Fernandes dos Santos Lima, que atua na Lava-Jato, fazem severas
críticas às ações do Planalto nesse sentido. Em recente entrevista ao
jornal "O Globo", Lima criticou a Medida Provisória 703, que permite
acordos de leniência entre a União e as empreiteiras, dizendo que ela
cria um incentivo à corrupção. "Vale a pena ser corrupto no Brasil – ele
disse – porque no final nossa Justiça é lenta, nossos processos são
intermináveis e, além de tudo, se nada disso der certo, você vai no
governo e resolve o problema com uma nova lei." Os acordos de leniência,
no entanto, não afetam os processos contra os executivos envolvidos em
corrupção. Percebe-se, portanto, que além do desrespeito aos superiores
hierárquicos, o procurador revela total insensibilidade com a situação
dos trabalhadores, como se dissesse: "Que se danem!"
Na verdade, não se pode usar o pretexto de combate à corrupção para
satisfazer preferências políticas e perseguir a fama, atropelando
direitos e em prejuízo de milhares de trabalhadores que não tem nada a
ver com as ações ilegais dos seus patrões. Corruptos e corruptores são
pessoas, não empresas. Portanto, que as pessoas sejam punidas, não as
empresas, porque da sobrevivência destas depende a sobrevivência de
milhares de famílias. Além disso, a operação não pode ser politizada,
até porque todos – governo, oposição e o povo – e não apenas os
integrantes da Lava-Jato, defendem o combate à corrupção. Na visão do
procurador Carlos Fernandes, porém, a julgar por suas críticas às ações
do governo para salvar o emprego dos trabalhadores das empreiteiras
investigadas, somente ele e seus companheiros da força-tarefa são
honestos e querem o fim da corrupção. Ele precisa se conscientizar de
que todos os brasileiros também querem acabar com a corrupção, mas sem
partidarismos e sem arbitrariedades.
Observa-se que muitos dos corruptos confessos, aqueles que receberam
as propinas milionárias, estão em prisão domiciliar – praticamente em
liberdade – enquanto alguns dos corruptores, aqueles que pagaram as
propinas, estão presos, como é o caso dos executivos das grandes
empreiteiras. Deduz-se, daí, que, provavelmente pelos critérios do
pessoal da Lava-Jato, receber propina seria um crime menor do que pagar.
Talvez por isso já se fala em cerca de 100 anos de prisão para Marcelo
Odebrecht, presidente da empresa que tem o seu nome e que é visto como o
troféu maior dos investigadores. É possível que com a prisão desse
empresário, dono da maior empresa de construção do Brasil, os
integrantes da força-tarefa passassem a se sentir como super-heróis,
imagem que também pretenderiam passar à sociedade. E, aparentemente,
acham que poderiam, por isso, sobrevoar tranquilamente acima de tudo e
de todos.
Na realidade, o pessoal da Lava-Jato se sente tão poderoso, calçado
pela mídia, que se julga até no direito de editar os depoimentos dos
delatores, com graves prejuízos para os presos, conforme denúncias de
seus advogados. E com base em suas interpretações, no que consideram
importantes para incriminar os réus, solicitam as penas para mantê-los
na cadeia. A denúncia mais recente é a do lobista Fernando Moura, que
alega ter sido o seu novo depoimento alterado:"Depois que assinei [o
termo do depoimento] que fui ver [o que estava escrito], diz que o Zé
Dirceu me orientou a isso. Não foi esse o caso", disse. A julgar por tal
declaração estaria havendo manipulação de depoimentos, o que tiraria
todo o mérito do trabalho dos investigadores que, embora com as melhores
das intenções, estariam adotando métodos condenáveis para atingir os
objetivos higienizadores.
Dois fatores contribuem para essa situação: o apoio incondicional da
mídia e a ausência de reação a tudo o que é considerado arbitrário e
ilegal. Quem tem autoridade para fazê-lo simplesmente silencia, talvez
temeroso da pressão da mídia, e quando surge uma atitude coletiva, como a
carta-denúncia dos mais de 100 advogados e juristas, tenta-se
desqualificar o documento, sob a alegação de que foi gestado dentro de
uma das empresas investigadas, no caso, a Odebrecht. Ora, não importa
onde o documento foi elaborado, se na Odebrecht, no Caribe ou na China,
pois a partir do momento em que os advogados e juristas o assinaram eles
assumiram o seu conteúdo e, portanto, a sua autoria. É o caso, por
exemplo, dos discursos escritos por outras pessoas, pelos ghost-writers,
que passam a ser de quem os pronuncia. Não importa quem e onde tenham
sido elaborados. Portanto, o fato de ter sido gestado na Odebrecht,
conforme noticiou a "Folha" em tom de denúncia, não o invalida. A
discussão deve ser em torno do que está contido nele, ou seja, se é
verdade ou mentira.
Diante disso, querer utilizar esse documento como agravante da
situação do preso Marcelo Odebrecht é mero pretexto para justificar uma
pena mais severa. E dar o tal recado à sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário