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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Jarbas, o inocente

Geraldo Magela: <p>Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária. À bancada, senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado</p>
Texto de Paulo Moreira Leite para o portal 247
O veterano deputado Jarbas Vasconcelos começou mal sua campanha para disputar o lugar de Eduardo Cunha na presidência da Câmara de Deputados. Jarbas fez parte da campanha que elegeu o próprio Cunha -- em primeiro turno -- no início do ano e apenas dez meses depois essa decisão se tornou uma tremenda dor de cabeça. Em entrevista à Folha, Jarbas tentou explicar o apoio a Cunha nos seguintes termos: 
-- Eu votei nele porque a informação que eu tinha é que ele era um lobista, mas ele é muito mais que isso, é um corrupto comprovado. O problema não é de batom na cueca, é de batom na roupa toda. Votei nele para não ter um petista. Se eu tivesse o mínimo de informação do que ele fazia na Câmara... 
Aos 72 anos de idade, o discurso da inocência não combina com Jarbas Vasconcelos. Trata-se de um político veterano e experimentado. Acumulou quatro mandatos de deputado federal. Foi governador de Pernambuco por dois mandatos, uma vez senador e duas vezes prefeito do Recife. Também teve um passado honrado na resistência à ditadura de 1964. 
Em 2015, havia três concorrentes na disputa pela presidência da Câmara. Seria possível fazer outras duas opções ou mesmo tentar construir uma quarta candidatura.
Mesmo quem tinha como prioridade impedir, de qualquer maneira a vitória de "um petista", como diz, não era obrigado a assumir a estratégia de "voto útil" num concorrente que hoje define como "corrupto comprovado."
O "voto útil" a favor de Cunha teve um papel importante naquele momento. Ajudou a isolar o governo Dilma e garantiu uma vitória no primeiro turno, impedindo que a disputa fosse para uma segunda rodada, quando talvez fosse possível derrubar o favorito pela soma dos votos de seus adversários. Isso já havia ocorrido em 2005.
Naquele ano, a derrota do candidato do PT Luiz Eduardo Greenhalgh abriu espaço para a candidatura de Severino Cavalcanti, um azarão que somou adversários de várias famílias e acabou vitorioso. 
Em Brasília, a folha corrida de Eduardo Cunha era conhecida desde 1992, quando ele assumiu a presidência da Telerj, estatal de telefonia do Rio de Janeiro, na conta de PC Farias, o tesoureiro de Fernando Collor.
Nunca houve nenhuma dúvida sobre os métodos de Cunha para construir e manter uma bancada dócil e cada vez mais ampla. Ele tampouco foi confundido com os lobistas verdadeiros que atuam no Congresso, muitas vezes com mandatos parlamentares, com interesses específicos para defender -- no agro-negócio, no ministério público e nas polícias, nas igrejas, entre aposentados e assim por diante.   
Há muito tempo o estilo de trabalho de Cunha era conhecido -- e usado -- pelos interessados.
Para assumir o segundo posto na linha sucessória da presidente da República, ele precisou do apoio de políticos como Jarbas Vasconcelos e tantos outros que, mais cedo do que imaginavam, são obrigado a encarar as decisões que tomaram e explicar o que fizeram. O jogo do inocente é previsível e sem credibilidade. 
Afastados de um discurso democrático que marcou sua origem em passado relativamente remoto, mas real, aliados de Cunha 2015 assumiram a identidade de cavaleiros da moralidade pública -- imaginando que poderiam passear impunemente pela nova aventura. Não foi falta de informação. Foi erro de cálculo.

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