De O Globo
Deputados que costumam frequentar o gabinete de Cunha desligaram seus telefones celulares
Até pouco tempo respaldado por uma ampla
base de deputados governistas e da oposição, o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), viu seu apoio ruir com a revelação dos
documentos das contas secretas na Suíça nas quais teria recebido propina
de corrupção na Petrobras. Muitos de seus aliados, de opositores e de
integrantes de seu próprio partido, passaram a defender que Cunha se
afaste do cargo para tentar salvar seu mandato.
A “solução Renan Calheiros”, referência
ao presidente do Senado, que em 2007 renunciou à presidência da Casa
para escapar de um processo de cassação, foi citada por vários deputados
próximos a Cunha como a melhor alternativa no momento.
Em conversas por telefone ontem, os
líderes da oposição — PSDB, DEM, PPS e SD — avaliaram que a situação de
Cunha é “insustentável”. O grupo se reunirá na próxima segunda-feira
para definir um pronunciamento sobre o tema. Por enquanto, reiteram a
nota divulgada no sábado passado em que apenas defendem o afastamento de
Cunha da presidência da Câmara. Cresceu até entre os entusiastas do
impeachment a ideia de que Cunha já não tem “legitimidade” para conduzir
o processo contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara.
— A casa caiu, ele está perdendo o
timing de tudo. Como vai fazer impeachment agora? Vai ficar claro que é
por vingança, perde muito a credibilidade — diz um deputado da oposição.
As negociações com o governo, a partir
de agora, vão se dar em outros termos, apostam auxiliares de Dilma. Se a
princípio Cunha tinha em mãos a força da caneta do impeachment para
barganhar sua absolvição no Conselho de Ética ou mesmo uma desaceleração
do processo no Supremo Tribunal Federal, suas opções agora estão
limitadas.
— A única negociação que ele pode fazer
com o governo agora é se afastar da presidência para deixar as matérias
do governo tramitarem normalmente. E tem que ser rápido, porque daqui a
pouco até para salvar o mandato fica tarde. E o pior que pode acontecer a
ele e à família é caírem nas mãos do Sérgio Moro — disse um
interlocutor do Palácio do Planalto.
Ontem, vários dos deputados que costumam
frequentar o gabinete de Cunha desligaram seus telefones celulares. Nas
palavras de um governista, ninguém mais quer se ver “colado” a Cunha.
Houve, no entanto, exceções, como o líder do PTB, deputado Jovair
Arantes (GO), que defendeu que as contradições sobre as contas na Suíça
sejam tratadas como questão “fiscal”, e não criminal:
A cúpula do PMDB enfrenta um misto de
constrangimento e de “compasso de espera”. Segundo ministros e
parlamentares, a tradição do PMDB não é perseguir seus integrantes, até
porque muitos já sofreram investigações.
O vice-presidente Michel Temer, apesar
do encontro com Cunha na semana, também está cauteloso diante dos
acontecimentos. O discurso oficial, verbalizado nos últimos dias pelo
líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), é de que o estatuto do
partido só prevê expulsão depois de decisão transitada em julgado.
Apesar da erosão dos apoios, o número de
líderes que admitem se colocar publicamente contra Cunha ainda é
pequeno. Um deles é o deputado Sílvio Costa (PSC-PE), um dos
vice-líderes do governo na Câmara, que começou a articular ontem um
documento assinado pelos 28 partidos da Câmara pedindo a renúncia do
presidente.
— Ele não pode continuar como presidente
da Câmara nesses 90 dias no Conselho de Ética. Estou sentindo
dificuldades (de obter apoio). Mas estou no meu papel e continuarei com
os telefonemas durante todo o final de semana.
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