Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Há tempos uma sessão não era tão aguardada no Senado. Antes das dez da manhã, um batalhão de jornalistas e assessores já se acotovelava na sala da Comissão de Constituição e Justiça. Ninguém queria perder o embate de Fernando Collor com o procurador Rodrigo Janot.
O investigado estimulou a expectativa por um duelo com o investigador. Chegou cedo e se instalou na primeira fila, de frente para a cadeira reservada ao procurador. Como um ator concentrado em seu papel, esperou calado, com a expressão fechada e os olhos injetados e fixos em Janot.
Os seguranças observavam seus poucos movimentos com tensão. Collor repetiria o pai, também senador, que atirou e matou um colega no plenário? A política brasileira não se civilizou tanto desde 1963. O ex-presidente o confirmou nas últimas semanas, ao chamar o procurador de "filho da puta" na tribuna.
O suspense durou quase três horas. Quando sua vez chegou, Collor abriu a metralhadora verbal. Em tom agressivo, repetiu acusações que já havia feito e reclamou da divulgações de descobertas da Lava Jato. "Estamos diante de um catedrático no vazamento de informações. Vazar informações que correm sob segredo de Justiça é crime", esbravejou.
Denunciado com base em outros artigos do Código Penal, Collor pareceu surpreendido pela atitude firme de Janot. Sereno, porém firme, o procurador exigiu silêncio ao se defender. "Vossa Excelência não me interrompa", disse. Foi o único ensaio de bate-boca entre os dois. Fora do alcance das câmeras, o senador voltou a murmurar palavrões.
Quando o tempo de Collor acabou, a sala vivia uma sensação de anticlímax. O ex-presidente prometeu voltar, mas não apareceu mais na sala. "Todo mundo esperava uma guerra, mas só tivemos uma batalha de Itararé, o duelo que não houve", ironizou um senador petista. A CCJ aprovou a recondução de Janot por 26 a 1. Como Collor é suplente na comissão, seu voto não foi contabilizado
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