Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Não
é bom amplificar a voz de políticos que pregam a intolerância e a
divisão da sociedade. O debate público não avança nada, mas eles ganham o
espaço que tanto procuram. Sem eco às suas polêmicas fabricadas,
bolsonaros e felicianos teriam menos chance de se eleger.
A
regra deve ser quebrada se a verborragia passa a ameaçar direitos
fundamentais. Isso ocorreu na última quarta, quando deputados da bancada
evangélica interromperam uma votação para atacar a Parada Gay e rezar
no plenário.
Naquela
noite, subiu à tribuna o deputado Capitão Augusto, que desfila pela
Câmara de farda da PM. Em resposta a Roberto Freire, que havia criticado
a mistura de fé e política, ele disse o seguinte: "A democracia, antes
de mais nada, é o respeito da vontade da maioria. Enquanto nós,
cristãos, formos maioria no Brasil e maioria nesta casa, vossa
excelência, assim como os demais ateus, têm que respeitar a nossa
vontade".
A
democracia é o regime de governo da maioria, mas só existe quando as
minorias são respeitadas. Nenhum grupo hegemônico pode tirar direitos de
quem tem menos poder. Um país onde a "vontade da maioria" se impõe
"antes de mais nada" é uma tirania. Para entender isso, o deputado não
precisa ler Tocqueville. Basta folhear a Constituição.
Eleito
pelo PR, o capitão quer criar o Partido Militar Brasileiro. Diz estar
indeciso entre o número 38, em referência ao revólver, e o 64, em
homenagem ao golpe. Defensor da pena de morte, ele é um retrato da
direita tacanha que ganha força no Congresso. Figuras assim sempre
circularam nas sombras, mas agora contam com um aliado poderoso: o
deputado Eduardo Cunha, que controla os holofotes da Câmara.
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