Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A
bancada da bala teve o seu dia de bancada do gás de pimenta. A polícia
legislativa usou o spray, que ataca os olhos e as vias respiratórias,
para expulsar estudantes da Câmara. Eles protestavam contra a redução da
maioridade penal, bandeira do grupo conservador que tem ditado as
regras na Casa.
O
gás foi disparado em uma sala onde havia gritaria, mas nenhum confronto
físico. Seguiram-se cenas de correria e tumulto. Uma jovem desmaiou. A
presidente da UNE teve o braço arranhado, e seis manifestantes foram
atendidos no serviço médico. "Fiquei até tonto com o spray. Estou aqui
há 21 anos e nunca tinha visto uma coisa dessas", reclamou o deputado
Darcísio Perondi.
O
ataque aos estudantes reproduz a truculência com que a redução da
maioridade tramita na Câmara. A comissão dedicada ao tema será encerrada
a toque de caixa, sem as 40 sessões previstas. A pressa é patrocinada
por Eduardo Cunha, que quer aprovar o texto até o fim do mês.
A
proposta cita a Bíblia, mas não menciona dados científicos ao sustentar
que a Constituição deve mudar para que infratores de 16 anos sejam
presos junto com adultos. Foi apresentada por um ex-deputado ficha-suja,
condenado por corrupção e formação de quadrilha.
Após
a confusão, Cunha defendeu os policiais e avisou que barrará os
estudantes na votação do texto. "Isso é uma bagunça que a gente não pode
permitir", disse, sobre o protesto.
Poucas
horas depois, ele deixou que a bancada evangélica interrompesse uma
votação da reforma política para gritar contra a Parada Gay. O ato
terminou com os deputados rezando o pai-nosso, como se o plenário fosse
extensão de suas igrejas.
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