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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Atos têm “agenda difusa” e “corrupção seletiva”

Por Tereza Cruvinel

Os protestos minguaram, talvez porque muita gente não quis marchar com pregadores do golpe e da violência política mas outros milhares fizeram o barulho que gera instabilidade política, agora com uma agenda ainda mais difusa e contraditória. Segundo o Datafolha, a motivação mais citada pelos manifestantes foi a corrupção. Entretanto, apesar dos muitos cartazes sobre "petrolão" e Petrobrás, não houve referências às contas secretas no HSBC da Suíça ou sobre o mega-escândalo de sonegação revelado pela Operação Zelotes. Deve ser a corrupção seletiva: O cidadão se revolta com o escândalo que envolve políticos mas não se incomoda com os casos em que grandes empresas e milionários sonegaram impostos depositando dinheiro lá fora ou subornando conselheiros do CARF/Receita Federal para burlar o fisco. Ou alguém viu um cartaz sobre os Zelotes ou sobre as contas na Suíça? Eu não vi.
A segunda motivação, segundo o Datafolha, foi impeachment de Dilma e o protesto contra o PT. Não foram os problemas do bolso e do estômago, o aumento da inflação ou do desemprego, problemas que certamente pouco afetam a vida da maioria que foi às ruas. Talvez por isso não vi nenhuma jovem loura, nenhum rapaz bem nutrido ou senhora elegantemente vestida reclamando do preço do feijão. Mais ainda. Examinando imagens dos protestos não vi uma só referência àquela que é a maior ameaça aos que vivem do próprio trabalho, o projeto de terceirização de mão de obra aprovado pela Câmara. A aprovação do projeto do deputado Sandra Mabel é coisa do Congresso, da qual o governo não conseguiu se dissociar e acabará pagando o pato. Se não conseguir barrar a aprovação no Senado, ainda vai tornar-se o pai desta aberração, embora o PT tenha votado maciçamente contra e o governo tenha feito suas críticas. Um protesto de gente que trabalha não podia ser indiferente a um tema que está aí, ameaçando conquistas e direitos.
Os movimentos que chamaram as manifestações, mesmo rachados, anunciaram que agora vão mudar de tática, partindo para a pressão sobre o Congresso. Deviam começar pressionando pela não aprovação do projeto de terceirização.
Mas, falando nisso, o que irão mesmo pedir a Renan Calheiros e Eduardo Cunha nesta marcha a Brasília? O impeachment de Dilma, sem que haja elementos jurídicos para fundamentar o pedido? Renan Santos, líder do Movimento Brasil Livre, anunciou que uma caravana irá ao Congresso na sexta-feira "encaminhar a pauta do movimento". Devia começar mudando o dia. Sexta-feira, mesmo nestes tempos frenéticos de Congresso hiper-ativo disputando poder com o Executivo, é dia de casa vazia.
Já Rogerio Chequer, do Vem Prá Rua, acusado de ser bancado pelo PSDB, falou numa aliança de 50 grupos que iriam ao Congresso na quarta em busca de lideranças dispostas a encaminhar os pleitos dos movimentos. O PSDB, até agora, não abraçou a bandeira do impeachment. Pelo menos oficialmente. Ou haverá alguma reivindicação mais viável, além do Fora Dilma?
Vai ser engraçado ver movimentos que se dizem contra todos os políticos e partidos pedindo a estes mesmos que violem as regras da política e tirem Dilma do governo. Estão quase entendendo o óbvio: na democracia, por piores que sejam os partidos, não há salvação fora da política. O que precisamos é melhorar o sistema de regras em que ela é exercida. É de uma boa reforma política, embora isso também não seja remédio para todos os males.
Educação política
Boa parte dos que protestam não sabe mesmo do que está falando. Assim como 12% dos defensores do impeachment, segundo o Datafolha, não sabem que se Dilma for afastada o governo será assumido por Michel Temer. Desta vez apareceram cartazes pedindo "intervenção militar constitucional". A Constituição é consequência da luta pela democracia. Os que a escreveram não pactuaram com a ditadura e o passado, mas com o futuro e com a liberdade. Não existe tal asneira em nossa Constituição cidadã. A alma de doutor Ulysses Guimarães deve estar horrorizada com tal deturpação.

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