247 - O servidor
público Rodolfo J. C. Vasconcellos escreveu uma carta aberta ao juiz
Sergio Moro, que conduz a Operação Lava Jato. Leia a íntegra:
CARTA AO JUIZ SÉRGIO MORO
Sinto que, se não escrever hoje,
certamente, não terei mais condições de fazê-lo, pois esse sempre quis
ser um texto para homenageá-lo. E digo isso porque, a cada dia, menos
argumentos encontro na minha consciência para sustentar a imagem de
super-herói que, excepcionalmente, criei de Vossa Excelência.
Excepcionalmente
porque, como adulto, nunca acreditei em super-heróis, muito menos
salvadores da pátria, pois, afinal de contas, vivemos em um país onde o
maior índice de assaltantes por metro quadrado do mundo encontra-se
justamente no nosso Congresso Nacional; que tem um Judiciário maculado
por figuras como o Juiz Federal Flávio Roberto de Souza (que se apossou
dos bens de Eike Batista), o ex-Juiz Federal João Carlos da Rocha
Mattos (já condenado por vendas milionárias de sentenças e, agora
flagrado em conta na Suíça com saldo de 60 milhões de reais), e quando a
nação assiste atônita ao 1º aniversário de um debochado pedido de
vistas a imprescindível processo com votação já praticamente decidida no
STF, só para citar os casos que estão na mídia esta semana; um país
onde o Executivo está historicamente atrelado a gangues partidárias
ávidas por ministérios e seus recursos que serão desviados em licitações
com cartas marcadas; um país dominado por uma mídia elitista,
tendenciosa, sonegadora e desonesta, acostumada a ditar a agenda dos
Executivo, Judiciário e Legislativo e que, com elogios de primeira
página, cerimônias para entrega de troféus e chamadas bajuladoras nos
telejornais, valida o “alvará” que perpetua privilégios não mais em voga
nos países civilizados.
Há um ano, quase ninguém conhecia o
Juiz Sérgio Moro; hoje, praticamente, o mundo inteiro já ouviu esse nome
sempre atrelado a atitudes próprias de um paladino da moralidade ou do
herói que enfrenta destemidamente os poderosos; sempre cercado de jovens
Procuradores da República e arrojados Delegados da Polícia Federal.
Passou, então, Vossa Excelência a comandar a “nova cena” da moralidade
que a maioria dos brasileiros tanto aguardava. Sem dúvida alguma,
desenhava-se, nas feições de gladiador romano das raríssimas fotos
encontradas no Google, a imagem do nosso “super-herói”.
Hoje as
fotos já são inúmeras, daqui a um ano, milhares. Mas, a figura do
super-herói transitava apenas no nosso imaginário. Não deveria nunca ter
sido levada a sério por Vossa Excelência. E eu acreditei tanto…
E
como era bom, adulto, voltar a acreditar em super-heróis. Eu que sempre
votei no PT para presidente do Brasil, vi finalmente em Vossa
Excelência o homem com poder para peitar velhas raposas da nossa
política, com coragem bastante para enfrentar tantas poderosas “forças
ocultas”; o Juiz determinado a varrer pra cadeia a sujeira entulhada nos
gabinetes mais prestigiados; o comandante de uma equipe aguerrida que
produzia a cada dia uma nova blitz espetacular, em reluzentes e velozes
carros pretos com brasões dourados, arrastando para trás das grades uma
cambada de granfinos desonestos. Repetia eu no Facebook: “Não ficará
pedra sobre pedra” A mídia que leio alertava todos os dias sobre o
possível equívoco de uma politização nas investigações e, não há como
negar, esse fantasma, infelizmente, começou a tomar corpo a cada novo
dia.
Embora a briosa obstinação de Vossa Excelência já se
arrastasse por anos, a mídia abutre apoderou-se dela, em questão de
dias, e transformou-a em sua própria esperança, salvadora de todos os
seus próprios males, deixando consigo apenas o brilho reluzente próprio
dos super-heróis salvadores da pátria O comando agora, de fato, passara
para a mídia sonegadora e desonesta, acostumada a enterrar e ressuscitar
reputações. O que era só fantasma virou bicho, atende pelo nome de
”politização” e, irremediavelmente, deixará marcas nas investigações.
Não vou questionar aspectos técnicos porque não me cabe, mas, explique Excelência:
1.
Por que a citação do nome de Aécio Neves, pelo bandido Youssef, ainda
antes do primeiro turno das eleições do ano passado não vazou para a
imprensa, e o de Dilma vazou? Acredito que o vazamento não teve a
participação de Vossa Excelência, mas por que não tratou de reparar o
prejuízo à candidatura de Dilma Rousseff?
2. Por que o escândalo
de Furnas, onde Aécio Neves foi citado pelo mesmo Youssef desde o ano
passado, não pôde ser investigado por seus comandados; e o rombo no
Sindicato dos Bancários que foi presidido por Vaccari Neto há 10 anos
pôde?
3. Por que só a família Vaccari foi conduzida,
coercitivamente, de forma humilhante, à presença de Vossa Excelência
apenas para depor, sem que houvesse algum indicativo de que se recusaria
a fazê-lo, caso fosse oficialmente convocada?
4. Por que só são libertados os que descambam, “espontaneamente”, para a delação premiada, de dedo em riste na direção “certa”?
5. Será mesmo que após todos esses
anos vasculhando os porões por onde transitam, preferencialmente, a
burguesia representada pelos que estão nas listas do HSBC, os
sonegadores que detêm o poder sobre os meios de comunicação, e os que se
elegem através das práticas criminosas comuns a todas as campanhas
políticas desde sempre, Vossa Excelência chegou à conclusão de que é
mesmo o PT o responsável por tudo isso que está aí?… Que tudo começou
com o PT?…
Que o PT inventou o “mensalão” antes do PSDB bem como
a prática de suborno em 95% das licitações públicas em TODOS os Órgãos
de TODAS as esferas públicas? Permita-me registrar que se engana Vossa
Excelência se acredita que a militância petista, os trabalhadores mais
humildes do Brasil, a maior parte da classe artística e os pensadores
mais sensíveis não querem ver, definitivamente, este País passado a
limpo de verdade. Que se engana também Vossa Excelência se acredita que
os que foram às ruas no dia 15 de março e 12 de abril são os que querem
uma limpeza geral, uma reforma política de verdade e os culpados não
petistas atrás das grades.
Cheguei a publicar, no Facebook
algumas vezes, que acreditava na seriedade de Vossa Excelência e no seu
empenho pessoal para não permitir que tudo se transformasse num
nauseante Circo dos Horrores, onde os “monstros” já estão todos
dedurados e marcados, aguardando a melhor hora de serem chamados ao
picadeiro para deleite da elite empoleirada em áreas nobres e armada de
panelas Tramontina, e júbilo da mídia, à beira da falência, que tem
diariamente ao seu dispor manchetes as mais variadas, mas todas elas
carimbadas com o “talvez”… O “talvez” que destrói irremediavelmente
biografias, vidas, famílias.
Ouço gritos de horror… Por isso tinha que escrever hoje, coincidentemente, quando voltei a não acreditar em super-heróis.
Rodolfo J. C. Vasconcellos, Funcionário Público Federal SIAPE – 1671147
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