247 - Um dos
pedidos de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na
Lava Jato compra a tese de que doações legais de empreiteiras a
determinados partidos políticos, na realidade, seriam propina. Com base
nesse argumento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou até a apresentar
um projeto propondo a cassação do registro de partidos que possam ser
enquadrados nessa classificação – seu alvo, obviamente, é o PT.
Para provar essa tese, o Ministério
Público pretende fazer uma varredura em R$ 62 milhões doados pelas
empresas investigadas na Lava Jato nos últimos anos (leia mais aqui).
Ocorre, no entanto, que um
levantamento das doações de campanha feitas por essas mesmas empresas em
2010 e 2014, anos das duas últimas eleições presidenciais, mostra que
os valores doados aos diretórios nacionais de PT e PSDB foram
praticamente idênticos. E mais: o PMDB também recebeu um valor muito
próximo, tendo sido o primeiro no ranking em 2010 e o terceiro em 2014.
O levantamento envolve as
empresas Odebrecht, Galvão, UTC, Camargo Correa, OAS, Andrade Gutierrez,
Mendes Júnior, Iesa, Queiroz Galvão, Engevix, Setal, GDK, Techint,
Promon, MPE e Skanska.
Eis os números de 2010:
Partido Valor % sobre o total da arrecadação
PMDB 32.850.000,00 24
PT 31.400.000,00 23
PSDB 27.770.000,00 20
PSB 19.515.000,00 14
PR 6.501.000,00 5
PP 4.950.000,00 4
Fonte: TSE
Os dados revelam, portanto, que, em
2010, quando a presidente Dilma Rousseff superou José Serra na disputa
presidencial, o PMDB recebeu R$ 32,8 milhões, seguido pelo PT, com R$
31,4 milhões e pelo PSDB, com R$ 27,7 milhões. Nos três casos, a
participação das empreiteiras sobre o total arrecadado foi próxima a
20%.
Em 2014, quando a presidente Dilma Rousseff superou Aécio Neves, não foi muito diferente.
Eis os números:
Partido Valor % sobre o total da arrecadação
PT 56.386.000,00 25
PSDB 53.730.000,00 24
PMDB 46.620.000,00 21
PSB 15.800.000,00 7
DEM 12.100.000,00 5
PP 10.255.000,00 5
Fonte: TSE
É novamente uma situação de
equilíbrio entre os três maiores partidos: PT, PSDB e PMDB. E, de novo,
com a participação das empreiteiras sobre o total arrecadado pouco
superior a 20%.
Esses dados revelam a incoerência de
quem pretende demonstrar que as doações a determinados partidos são
"propina", enquanto a outros representam algum tipo de convicção
ideológica ou cidadania corporativa. (A esse respeito, vale ler, aqui, a análise de Fernando Brito, editor do Tijolaço)
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