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terça-feira, 31 de março de 2015

Dirceu, Richa e a história de dois delatores na Folha

247 - Em sua edição de ontem, a Folha de S. Paulo, comandada por Otávio Frias Filho, condenou de forma veemente a proteção do Poder Judiciário ao PSDB, num editorial sobre o chamado mensalão tucano. "Prescrição, atrasos, incúria e engavetamento beneficiam políticos do PSDB acusados de irregularidades, inclusive no dito mensalão tucano", dizia o texto (saiba mais aqui).
Horas depois, o jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, lembrou que a proteção não é apenas do Judiciário – a blindagem se estende aos meios de comunicação. "A Folha, eu dizia, de tempos em tempos, faz um editorial daqueles. Mas apenas para que possa continuar a usar o marketing que diz que o jornal 'não tem rabo preso com ninguém', e por nenhuma outra razão que mereça algum tipo de elogio", disse ele (relembre aqui).
Na edição desta terça-feira, a Folha parece dar razão ao jornalista do DCM. Ao noticiar pela primeira vez uma delação premiada contra o governador tucano Beto Richa, do Paraná, a Folha inverte seus próprios padrões. Notica antes a defesa de Richa e só depois a acusação – e faz tudo isso numa tripa escondida no jornal.
Na delação premiada, Marcelo Caramori, ex-fotógrafo do governo, acusou Luiz Abi Antoun, primo de Richa, de ser o "caixa financeiro" das campanhas de Richa, arrecadando, inclusive, recursos de caixa dois. O título da Folha, no entanto, foi "Richa nega que suspeito tenha atuado em campanha".
O cuidado adotado pela Folha em relação a Richa é totalmente distinto do que foi feito, dez dias atrás, em relação ao ex-ministro José Dirceu. No domingo 22 de março de 2015, o jornal estampou a manchete: "Dirceu recebia parte da propina paga ao PT, afirmam delatores". Era um erro grave, uma vez que Dirceu não foi acusado por nenhum dos delatores da Lava Jato de receber propinas, como reconheceu, dias atrás, a própria ombudsman da Folha, Vera Guimarães Martins (saiba mais aqui).
Mais um detalhe: o primo de Richa, Luiz Abi, foi às ruas protestar no dia 15 de março contra a corrupção poucos dias antes de ser preso por corrupção.

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