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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A marcha em Paris e os oportunistas

Altamiro  Borges
ALTAMIRO BORGES 
Na linha de frente do protesto em Paris, um "cordão de autoridades" reuniu famosos carniceiros que nunca respeitaram as vidas humanas e as liberdades democráticas. Puro oportunismo!

O atentado à sede do jornal satírico "Charlie Hebdo", que resultou em 12 mortos – incluindo renomados cartunistas –, causou enorme comoção na França. De forma espontânea, durante vários dias da semana passada, milhares de pessoas foram às ruas para prestar apoio às famílias das vítimas e para condenar o terrorismo. Neste domingo (11), numa marcha já não tão espontânea, cerca de 3,7 milhões de populares ocuparam as ruas das principais cidades francesas – na maior manifestação pública da história do país. Na linha de frente do protesto em Paris, porém, um "cordão de autoridades" reuniu famosos carniceiros que nunca respeitaram as vidas humanas e as liberdades democráticas. Puro oportunismo!
Entre estes verdadeiros terroristas, destaque para o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que promove bombardeios diários contra os palestinos, chacina crianças e idosos sem dó nem piedade e ainda castra a liberdade de expressão em seu próprio país. De braços dados com o facínora israelense, outros líderes da direita mundial – como a chanceler alemã Ângela Merkel e os premiês da Espanha, Mariano Rajoy, e do Reino Unido, David Cameron – que nunca vacilaram em utilizar a violência contra os povos. Por razões ideológicas ou por interesses eleitorais, todos tentaram se aproveitar de maneira oportunista do sangue derramado na redação do jornal "Charlie Hebdo".
A tendência é que vários destes líderes da direita explorem o clima de comoção para impor novas medidas de caráter fascista. Contra o chamado "terrorismo islâmico" – o que já é uma perigosa generalização que reforça o preconceito e o ódio aos milhões de imigrantes que vivem na Europa – haverá o recrudescimento de outros tipos de fundamentalismo. A onda conservadora que varre o velho continente, atolado numa prolongada e destrutiva crise econômica, deve se agudizar no próximo período. O medo inclusive será usado para evitar a vitória das forças contrárias à elite burguesa e aos seus programas de austeridade neoliberal – como já sinalizam as eleições na Grécia e na Espanha.
Uma coisa é condenar, de forma enérgica e sem qualquer hesitação, o bárbaro atentado à sede do jornal "Charlie Hebdo". Outra coisa é servir de massa de manobra para os que agora tentam tirar proveito desta ação criminosa para justificar os seus crimes contra a humanidade. Chega a ser patético observar veículos da mídia monopolista adotando o lema "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie). Eles deram apoio às guerras imperialistas, às ditaduras sanguinárias, à violência contra a verdadeira liberdade de expressão, aos planos econômicos regressivos e destrutivos do capital. Tentam agora pegar carona na indignação para defender a "liberdade dos monopólios" – que não tem nada a ver com a liberdade de expressão.

















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