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domingo, 5 de outubro de 2014

Artigo de opinião:O lulismo resistiu



André Singer - Folha de S.Paulo
 Encerrada a campanha do primeiro turno, verifica-se que a base lulista comportou-se como um rochedo diante das ondas que agitaram o período. No final de 2013, conforme escrevi neste espaço, Dilma Rousseff obtinha 50% das intenções de voto entre os eleitores cuja família tinha renda mensal de até dois salários mínimos. Passados dez meses, permanece com a mesma quantidade de sufrágios no piso da pirâmide social.
Reforça a convicção na estabilidade do voto do estrato mais pobre o fato de que, em novembro de 2013, Marina Silva tinha ali 21% das preferências e hoje conta com 20%. De forma semelhante, Aécio Neves moveu-se pouco no interior do núcleo que sustenta o governo desde 2006: tinha 12% em novembro passado e agora está com 16%, variação ainda dentro da margem de erro (dois para mais e dois para menos).
É verdade que ao longo da campanha houve alguma oscilação no pilar do lulismo, com a diferença entre Dilma e Marina, que hoje é de 27 pontos percentuais, chegando a um mínimo de 11 pp no final de agosto. Tudo indica que a propaganda política teve o efeito esperado de ativar a simpatia latente, atraindo de volta para Dilma eleitores que haviam "esquecido" qual era a sua preferência.
Da mesma maneira, cabe lembrar que, logo após os acontecimentos de junho de 2013, Dilma perdeu 20 pontos percentuais nesse grupo, tendo recuperado boa parte deles nos meses subsequentes. Pode-se inferir agora que os longos minutos de horário gratuito no rádio e TV completaram o ciclo, restituindo à petista a condição que tinha às vésperas do pleito de 2010.
Na ponta superior da estratificação por renda, ao contrário, a perda de popularidade sofrida pela presidente em junho de 2013 não foi revertida, aprofundando o fosso de classe característico do lulismo. Se há quatro anos Dilma tinha 31% das intenções de voto entre os eleitores com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos (bit.ly/dataf10), agora dispõe de 23% (bit.ly/dataf14).
Assim, iremos às urnas amanhã com uma polarização entre pobres e ricos pelo menos tão marcada quanto a de 2006. A classe média tradicional rejeita em massa a continuidade, a qual é em bloco sustentada pelos pobres.

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