Na agência Brasil
A declaração do escritor Domingos Pellegrini em um debate ontem (18) na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, ainda repercute.
Pellegrini disse que a ditadura no Brasil foi mais branda que os demais governos militares na América Latina.
Em um seminário hoje (19), também na bienal, o jornalista Franklin Martins discordou dessa teoria.
“Tem gente que diz que a ditadura não foi brava assim. Mas você não
diz se uma ditadura é branda porque morreu mais ou menos gente, e sim
por ter amordaçado o país, impedido as pessoas de se expressar. A
essência da ditadura é ‘me aplaude que você vai se dar bem, me enfrenta
que você vai pros quintos dos infernos’”.
Martins participou de um dos seminários do evento que lembram os 50
anos do golpe de 64. Convidado para contar sua experiência na luta
armada durante a ditadura, o jornalista acredita ter sido um erro do
movimento ter pego em armas contra as forças militares.
“A luta armada foi um erro. Não porque não se pode
fazer a luta armada, mas sim porque não fortalecemos a luta contra a
ditadura. Muitos dos melhores, dos mais talentosos de nós, se expuseram e
foram massacrados”.
Respondendo às perguntas do público, ele comentou sobre o trabalho da
Comissão Nacional da Verdade (CNV), que pretende revelar pontos ainda
obscuros no período de repressão no Brasil.
Para Martins, se a CNV for capaz de fazer as Forças Armadas pedirem
desculpas sobre os chamados Anos de Chumbo, o trabalho terá rendido
frutos.
“Para que o país possa seguir por um caminho certo, todos precisam reconhecer o que foi feito errado”.
Muito lembrado por ter participado do sequestro do embaixador
americano Charles Elbrick, usado na troca por colegas presos pelo
regime, Martins concluiu dizendo que o período mais difícil não foi
enquanto esteve no Brasil, resistindo.
“Para mim o exílio em Paris foi a pior coisa. Lá, eu era um cara fora
da minha terra, enquanto as pessoas no meu país morriam”. Contudo, ele
afirma não ter se arrependido da postura que adotou contra a ditadura
militar. “Eu fico feliz que a gente deixou alguma coisa para vocês. Eu
olho para a minha neta e sei que ela vai crescer em liberdade, e isso
não tem preço”.
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