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sexta-feira, 21 de março de 2014

Dilma das pesquisas vence Dilma que mídia mostra

247 – Com 43% de intenções de votos, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira 20 pelo instituto Ibope, e indicações de sobra para, além de ganhar em primeiro turno, bater qualquer outro adversário num forjado segundo turno, a presidente Dilma Rousseff parece ser duas.
Uma Dilma é, exatamente, a líder popular que jamais perdeu a liderança nas pesquisas desde que assumiu seu mandato, em janeiro de 2011. A figura que, mesmo após as manifestações de junho do ano passado, o máximo que permitiu de esperança aos adversários foi uma remota possibilidade de segundo turno. Nunca uma ultrapassagem. Aquela que o público identifica como patrocinadora de políticas sociais compensatórias e inclusivas, co-responsável pela retirada de 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza.
A presidente Dilma Rousseff, enfim, que segue tranquila – de acordo com a ciência das pesquisas, frise-se – para a reeleição.
Outra Dilma é a que surge ao público, diariamente, pela ótica dos veículos da mídia familiar e tradicional. A presidente que não gosta ou não saber fazer política partidária (1); não se entende com o Congresso (2); perde aliados por tratá-los de maneira espartana (3); pilota uma política econômica que sobe juros e é leniente com a inflação (4); confunde e desanima empresários (5); não sabe o que fazer com a crise no setor elétrico (6); ignora assuntos internacionais polêmicos (7); etc etc.
Uma Dilma, portanto, que, de acordo com análises publicadas aos borbotões, estaria cada vez mais isolada no Palácio do Planalto.
Mas à hipotética pergunta 'qual Dilma você considera a verdadeira', a mais recente pesquisa Ibope indica que o público vê muito mais a presidente competente do que a executiva enrolada em dificuldades. A ponto de demonstrar, nas 43% de intenções de voto, que quer mantê-la já em primeiro turno no cargo.
Desta vez, a novidade da pesquisa foi exatamente a de não ter novidade. Nos boatos que cercaram a sua divulgação, capazes de mexer forte no desempenho das empresas estatais na bolsa de valores de São Paulo, a pesquisa Ibope iria mostrar uma queda nas intenções de voto da presidente. Não seria de estranhar. Afinal, o levantamento de campo se deu na semana passada, depois que os pré-candidatos da oposição puderam fazer todas as críticas que bem entenderam ao desempenho da economia no ano passado. E também ao comportamento político da própria presidente. Como se viu pelos 43% dados a Dilma na pesquisa Ibope, suficientes para mantê-la no Palácio do Planalto, por mais quatro anos, em primeiro turno.
Nem mesmo os reflexos do julgamento do chamado mensalão, o agravamento da violência urbana, a estiagem no Sudeste ou as enchentes no Sul foram capazes de abalar o desempenho de Dilma.  
Uma das explicações para a manutenção na popularidade da presidente está em seu estilo. Dilma, como se diz popularmente, dá a cara para bater. Em discursos nos palanques de inaugurações, nas redes nacionais convocadas para pronunciamentos oficiais e na maneira de agir nos bastidores, a presidente vai-se notabilizando por enfrentar os problemas sem subterfúgicos. Especialmente aqueles que, em tese, serviriam para proteger sua imagem.
Nesta semana, cujos fatos não influenciaram a pesquisa, fechada anteriormente, a presidente mostrou bem como gosta de agir. Ela respondeu pessoalmente a acusações em off – sem identificação da fonte de informação – publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Os jornais alegaram ter obtido de diretores da Petrobras informações segundo as quais Dilma teria tido todas as informações necessárias para, em 2006, barrar a compra, pela estatal, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Fiel ao seu estilo de não deixar para depois o que pode responder agora, Dilma, divulgou uma nota garantindo que o parecer que orientou o conselho de administração da Petrobras foi "omisso" quanto a pontos do contrato, notadamente a cláusula de compra obrigatória em caso de litígio entre sócios, e "juridicamente falho".
Não é a primeira vez que Dilma encara de frente uma questão grave. No início de sua gestão, ela demitiu ministros por suspeitas de malfeitos. Por menos que isso, no oitavo mês de governo, mandou o então ministro da Defesa interromper viagem à Amazônia e voltar imediatamente para ser demitido do cargo. Motivo: em entrevista, ele haia criticado duas das mais próximas auxiliares da presidente, a atual ministra Ideli Salvatti e a ex Gleisi Hoffman.
Não é comum, no Brasil, que os políticos façam o que de melhor se espera deles. Explicações objetivas sobre situações de suspeita ou atitudes diretas para casos de disciplina quase sempre são trocados por pronunciamentos obtusos e posições dúbias. A conciliação é a regra sobre o enfrentamento.
Residem no estilo tratoral que Dilma cultiva para si própria – e na suprema realização deu seu governo até aqui, a criação de 4,8 milhões de empregos desde janeiro de 2011 – as explicações para a perfomance superior da presidente sobre seus adversários. A presidente vem ocupando redes de rádio e televisão para falar até mesmo sobre o Dia da Mulher, como fez em 8 de março. Para a oposição, isso é uso do cargo para fins eleitorais. Mas além dos tribunais já terem recusado essa tese, não aceitando nem mesmo a imposição de pequenas multas à presidente, o que mais sobressai é que o povo não indica estar vendo nenhum problema nisso.
A julgar pelos números atuais, o povo gosta sim da Dilma que a mídia não costuma mostrar.

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