Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de
Pernambuco
Ao divulgar o plano diretor da companhia 2013-2017, o
presidente da Eletrobrás anunciou que no período, a previsão de redução no
orçamento de custeio será da ordem de 30%. Um dos itens da contenção de
despesas é o programa de incentivo ao desligamento voluntário (PIDV), cuja
projeção inicial é que alcance entre 20 e 25% do total dos 27 mil empregados da
holding.
Quando se fala de desligamento de pessoal, o discurso oficial
é sempre o mesmo. De que todo cuidado será tomado para que não haja
descontinuidade técnica e nem perda da qualidade dos serviços oferecidos à
população. No caso do fornecimento elétrico, este já vem há tempos, sofrendo com
as interrupções (também chamado de apagão) frequentes.
O agravante para o país com a dispensa de pessoal em uma
empresa com alto conteúdo técnico, caso da maior empresa estatal (como bem diz
o nome – pertence ao Estado, e não ao governo, partidos, bancadas ou políticos
individuais) na geração de energia elétrica, é o tratamento dispensado ao seu potencial
humano. Formado ao longo de vários anos de estudos, e com prática na própria
empresa, essa competência técnica em menos de 2 anos será dissolvida.
O programa de demissão voluntária é a forma adotada para
o “enxugamento” do quadro de funcionários da Eletrobrás, motivado pela
reestruturação depois da catastrófica perda financeira imposta pela lei 12.783/2013.
Além das verbas rescisórias já previstas na legislação
trabalhista oriunda da demissão sem justa causa, os funcionários receberam
vantagens como pagamento de salários, assistência médica ao empregado e
dependentes por um determinado período após o desligamento, complementação do
plano de previdência privada e auxílio de consultorias para transição de
carreira ou para abertura de um empreendimento. Tudo isto está no “script”.
Obviamente
a empresa não pode obrigar o funcionário a aderir ao plano de desligamento em
nenhuma hipótese. E é bom lembrar que geralmente esses tais planos de demissão
voluntária são precedidos de uma onda de boatos, fofocas, assédio moral, muita
pressão, terrorismo e intimidação, o que faz com muito(a)s não tenham
"cabeça" para avaliar adequadamente o que é melhor individualmente
para ele(a).
Infelizmente,
neste que é um dos momentos mais importantes da vida da pessoa, em que ele
precisa ter condições de avaliar, o mais friamente possível, as consequências
que podem advir da sua decisão, é precedido de toda sorte de sentimentos que
lhe deixa inseguro, quando ele deveria estar o mais tranqüilo possível.
Neste processo todo, em que o objetivo é o desligamento
de milhares de pessoas, merece uma reflexão o papel dos dirigentes do grupo
Eletrobrás e de suas empresas. Estes indicados, e muito deles “sem passado” na
empresa que dirige, mas que na partilha dos cargos pelos partidos políticos,
que compõem a base do governo de plantão, foram alçados aos cargos de chefia,
terão grande responsabilidade no “enxugamento” das empresas.
Para estimular os dirigentes/diretores bem cumprirem as
ordens, e conseguirem maior o número de demissões de funcionários eles terão
garantidos honorários extras. Ou seja, segundo informação amplamente difundida
pela imprensa, em um oficio dirigido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão, através do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas
Estatais ao Secretário Executivo do Ministério de Minas e Energia ficou definido
que “a participação nos lucros e resultados (PLR) dos dirigentes está condicionada
ao alcance de metas do plano de redução de pessoal, material, serviços e outras
despesas (PMSO)”.
Ainda de acordo com este documento encaminhado ao MME o
dirigente que conseguir uma redução de 30% ou mais na quantidade de
funcionários terá dois honorários de PLR. Quem reduzir de 20% a 30% terá 1,5
PLR. E aqueles menos “eficientes” que diminuírem o quadro de pessoal de sua
empresa em até 20% receberão um honorário apenas. A titulo de quantificar o PLR
a ser pago aos diretores das 19 empresas do grupo Eletrobrás, em 2012 o valor
médio foi de R$ 72.500,00.
Assim fica mais claro e cristalino, saber quem vai ganhar,
e muito lucrar, com o desmonte da Eletrobrás e suas empresas, inclusive a
Chesf.
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