Gostaria de acreditar que enquanto a maioria absoluta dos
venezuelanos chora copiosamente a “morte” de Hugo Rafael Chávez Frías
não existe quem a esteja comemorando. Entretanto, não me iludo. Apesar
de ser um homem de paz que nunca revidou com violência a violência que
sofreu nos idos de abril de 2002, Chávez era odiado com fervor por uma
minoria.
Seus inimigos não o combateram por seus defeitos, que, como qualquer
ser humano, deveria ter muitos. Não, não. Ele foi combatido por suas
qualidades, porque sua obra – que ultrapassou as fronteiras de seu país –
tornou o mundo mais justo e a vida dos compatriotas desvalidos menos
penosa.
Foi chamado de “ditador”, mas nenhum governante das três Américas
jamais se apresentou tantas vezes ao voto popular limpo e inquestionável
quanto ele. De 1999 até o ano passado, incontáveis foram as eleições
que venceu sem que nunca um só questionamento à lisura dos processos
eleitorais que lhe deram as vitórias tenha sido sequer levado a sério.
Chávez logrou fazer da Venezuela a campeã das Américas em redução da
pobreza e da desigualdade social. Sua obra social, como não podia ser
atacada por conta de êxitos como o de tornar o seu país o segundo da
América Latina, ao lado de Cuba, a extirpar a chaga do analfabetismo,
foi ignorada pela mídia internacional e até pela venezuelana.
Nunca me esquecerei de uma viagem que fiz à Venezuela em 2007, quando
fui a um dos morros que cercam Caracas e, em visita ao uma unidade do
programa social de Chávez que acabou com o analfabetismo, vi
adolescentes e até adultos recém-alfabetizados estudando a constituição
do país.
Mas a obra de Chávez extrapolou as fronteiras de seu país natal. A
revolução bolivariana se espalhou pela América Latina. Sua influência
mais forte tem sido sentida na Argentina, na Bolívia e no Equador, com
um modelo revolucionário que reformou constituições e democratizou a
comunicação de massas.
Perto da redução da pobreza, da miséria e da desigualdade que Chávez
promoveu, a que conseguimos no Brasil, em comparação proporcional, não
lhe chega nem aos pés. Isso porque, com risco da própria vida e
sacrificando a paz pessoal, ele comprou brigas com poderes imensuráveis
que, se não tivesse comprado, teria tido uma vida mais fácil no poder.
Dolorosamente, a morte física de Chávez será explorada de forma
nauseabunda por multibilionários das mídias de ultradireita que infestam
esta parte do mundo. Tentarão culpa-lo pela própria morte. Em lugar de
destacarem sua obra, destacarão o processo sucessório na Venezuela.A esses, digo que se antes tinham poucas chances de derrotar esse herói latino-americano, esse verdadeiro patrimônio da humanidade, agora suas chances são nulas, morreram fisicamente com ele, que acaba de renascer. Hugo Rafael Chávez Frias renasceu, chacais da miséria humana. Tornou-se um mito que os assombrará até o fim dos tempos.
Morto fisicamente, Chávez adquiriu poderes que nem todos os editoriais, colunas, telejornais ou reportagens mal-acabadas da Terra conseguirão equiparar. Sua verdadeira história só agora começará a ser contada às gerações futuras, mostrando que quando um homem devota sua vida ao bem comum como ele fez, torna-se imortal.
Descanse em paz, Hugo.
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