Por Jairo Cabral,
Diferente. Essa é a palavra que bem define o maior carnaval do mundo; o carnaval de Pernambuco. Constituído por variadas manifestações, esse folguedo deveras popular,é uma verdadeira usina cultural a misturar sons, cores, danças ritualísticas, cantos e encantos, com linguagem e nomenclatura próprias e padrão estético multifacetado e único ao mesmo tempo.São maracatus de baque virado ou nação, maracatus de baque solto ou rural, caboclinhos, ursos ( na corruptela do povo - la ursas ), escolas de samba como expressão comunitária, bois, troças, clubes pedestres, clubes de alegoria, blocos líricos, blocos de frevo, papangus fortemente presentes na cidade de Bezerros e os caretas da cidade de Triunfo. A música, fruto da miscigenação sonora, é original e peculiar. Os batuques do maracatu nação, expressão de rebeldia e grito de liberdade, do banzo e da religiosidade do povo negro. As loas do maracatu rural no rito das lendas do pai da mata e da caipora, do caboclo de lança, das crenças e religiosidade afrobrasileiras.
As tribos de caboclinhos de influência indígena e som primitivo na marcação das preacas. Os alegres bois e ursos, de cantigas de gozação e pilhéria, com sanfona, zabumba e triângulo, dando o tom da festa. Todavia, é o frevo, nas suas diversas modalidades, quem ressalta a singularidade do carnaval pernambucano. O frevo de rua, de natureza instrumental, é a trilha sonora que anima e arrasta os enormes cortejos de troças e clubes. Se subdivide em frevo de abafo ou de encontro, de melodia maleável e execução simples, onde prepondera o peso do som, o rachado, com a finalidade de abafar a orquestra rival, nos inevitáveis encontros das agremiações nas ladeiras e ruas de Olinda e Recife. Fogão de autoria do compositor Sergio Lisboa e Cabelo de Fogo do maestro Nunes, são dois bons exemplos desse tipo de frevo.
O frevo coqueiro se caracteriza pela predominância de notas rápi das e agudas, exigindo dos músicos esforço adicional, no soprar dos trombones, pistões e trompetes e é de difícil execução. Em algumas passagens, se assemelha ao frevo de abafo. É o caso de Toca Quem Pode de Jones Johnson e Relembrando o Norte do maestro Severino Araújo. Por sua vez, o frevo ventania, que exige destreza para ser tocado, se distingue pela primazia das palhetas. Ou seja, predominam saxofones e clarinetes e sua execução na profusão de notas, sugere uma espécie de tempestade musical. Mexe com Tudo de Levino Ferreira e Nino o Pernambuquinho do maestro Duda, bem exemplificam o frevo ventania.
O frevo de bloco, inspirado nas jornadas de pastoris e nas antigas serenatas, é executado por uma orquestra de pau e cordas, onde se sobressaem violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, violinos, tem letra, geralmente de cunho nostálgico,às vezes de protesto e de chiste e é cantado por um coral feminino. Hoje, em função de alguns fatores, dentre os quais o crescimento populacional e as mudanças arquitetônicas ocorridas nas áreas urbanas onde se realiza o carnaval, instrumentos de sopro como tuba, saxofone e clarinete, foram introduzidos para sustentar a melodia e amplificá-la. Bons exemplos são as Sete Evocações de Nelson Ferreira, Madeira que Cupim não Rói de Capiba e Paraquedista de Roberto Bozan.
O frevo canção tem a introdução semelhante ao frevo de rua, possui letra, que na sua maioria reflete fatos, casos e histórias do cotidiano e é cantado por um cantor ou cantora. É muito executado nos carnavais de salão dos clubes sociais e nos grandes bailes tradicionais realizados em casas de show. O Galo da Madrugada de José Menezes e Alírio Moraes, quem Vai prá Farol é o Bonde de Olinda de Capiba e Levei Pau no Vestibular de Gildo Branco ilustram bem essa modalidade de frevo.
É essa riqueza cultural que faz o carnaval de Pernambuco diferente, o melhor do mundo e deu ao frevo o título de patrimônio imaterial da humanidade.
Jairo Cabral é Diretor da Ceroula
Publicado no blog de jamildo
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