SEGREGAÇÃO
SOCIAL
Esta semana assisti a um
excelente filme chamado “Mississipi em Chamas”. O filme conta a história da
segregação racial americana no Estado do Mississipi (Estados Unidos), nos anos
60 do século XX. Após ver o filme, passei a meditar sobre uma segregação tão
grave quanto à americana vivida por nós moradores da Baixada de Angelim,
algumas décadas atrás. Passou um “filme”, na minha mente, da minha infância e como
nós éramos tratados, cidadãos de segunda classe pela chamada “sociedade” de
Angelim. Tudo que de ruim que pudesse existir parece que nascia na Baixada. Lembrei
de que as moças de nosso bairro não podiam entrar no Clube ARA. Isso mesmo, caro
leitor, pode parecer absurdo hoje em dia para você, mas era exatamente isso que
acontecia. As jovens da baixada já eram tratadas como prostitutas pelo simples
fato de, na época, existirem quatro cabarés no bairro (Galo de Ouro, Batacam,
Maria Gordo e Cabaré de Jonas). Elas não podiam frequentar os bailes realizados
no clube ARA.
Nosso povo só servia para
votar nos coronéis da política angelinense, todavia era trados como nada. Vi
uma cena que me chocou e, até hoje, guardo comigo essa péssima imagem. Um determinado cidadão da “Sociedade”, na festa de Nossa Senhora de Nazaré, estava
bebendo em um bar, quando ao terminar de comer uma coxa de galinha, entregou o
osso a um garoto que estava ali olhando ele comer a carne. Sem nenhum pudor,
esse cidadão tratou aquela criança como cachorro e o mais grave é que ele, com
toda certeza, achou que fez uma grande ação ao dar aquele osso ao menino. E por
falar em festa de Nossa de Senhora de Nazaré, havia nessa época um bar que se
chamava o Bazar da Festa. Ele era cercado com palhas de coqueiros e só podia
entrar a chamada “Sociedade”. Os pobres, se quisessem beber, teriam que ir para
os botequins.
O
prefeito e as autoridades ficavam nesse Bazar, só eles e mais ninguém poderiam
frequentar. O povo teria que se conformar com outras diversões. Mas a partir
dos anos 80, esse tratamento começa a mudar em nossa cidade. Gostando dele ou
não, o ex-prefeito Samuel Salgado fez uma revolução social em nosso município.
Talvez ele não tenha se dado conta da importância dessa mudança para nós da Baixada.
Pela primeira vez, esse bar cercado deixou de existir e o povo passou a se
misturar com o prefeito, vereadores e outras autoridades. O Clube ARA passou a
aceitar qualquer pessoa que quisesse frequentá-lo. Nosso Bairro passou a ser
valorizado ao ponto que era impensável para um político que quisessem chegar à
prefeitura de Angelim e não fazer um grande comício lá. Caso não realizasse,
com toda certeza seria derrotado.
Infelizmente
hoje, nosso Bairro está esquecido. Já não tem a sua praça, assim como o centro
da nossa cidade também não tem. A festa de Nossa Senhora de Nazaré já não
possui o mesmo atrativo que teve no passado. Essa festa era nove dias e hoje se
resume a um. O tradicional pastoril já não existe mais. Alguém pode dizer que isso
não funciona mais. Será mesmo? Por que será que no Recife existem vários grupos
desses? Infelizmente, nosso povo só curte a cultura do consumo e não as
tradições nordestinas.
O
mais importante já foi feito. O regaste de nosso povo como cidadãos iguais a
qualquer angelinense. E depois dos dois governos do presidente Lula, o povo
pode usar e consumir tudo aqui que foi negado a ele por muitos anos. Toda casa
hoje tem TV, já não precisa assistir na casa do vizinho ou na praça pública
como assisti várias vezes. Você só mede um grande governante pelo que ele faz
pelo seu povo, na vida de sua gente e se ele realmente muda essas vidas para
melhor. Da mesma forma que o Mississipique venceu a segregação racial, nós da Baixada
vencemos a segregação social.
Texto escrito pelo colaborador do blog: Professor José Fernando da Silva, Graduado em História pela UPE: Garanhuns-PE.
Texto escrito pelo colaborador do blog: Professor José Fernando da Silva, Graduado em História pela UPE: Garanhuns-PE.
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