Muita gente se surpreendeu com postura do presidente da Câmara dos
Deputados, Henrique Alves, de retroceder de uma suposta confrontação com
o STF. Inexplicavelmente, porque, como já foi dito aqui, por muito
tempo ele demonstrou sua estratégia para sobreviver não só no cargo que
ora ocupa, mas ao se reeleger, vez após outra, ao longo de décadas.
A estratégia de gente como Alves, Renan Calheiros, Sarney e tantos
outros, é uma só: eles têm um discurso para cada platéia, ao gosto do
freguês.
Para se eleger presidente da Câmara, Alves adotou um discurso de
independência e de afirmação do Legislativo diante de ofensiva de um
Judiciário que pretende que a Câmara aceite sem questionar cassações
políticas no âmbito do julgamento da AP 470 (vulgo “mensalão”).
Eleito, porém, o novo presidente da Câmara adotou um discurso que já o
tirou da linha de fogo em que permaneceu enquanto teve que sustentar o
discurso eleitoral.
Ou alguém acha que esse homem se mantém deputado há 40 anos sendo
coerente e franco? Político é isso aí, para quem não sabe. Diz o que
cada um quer ouvir e depois faz o que a conjuntura indica ser melhor.
O novo discurso de Alves significa que os réus do julgamento do
“mensalão” que têm mandatos de deputados federais já podem dar adeus aos
cargos? Não significa, não.
Alves jamais teria tido problemas com a imprensa e com o
partidarizado procurador-geral da República se não tivesse adotado o
discurso de confronto com o Supremo que a maioria da Câmara queria. Os “escândalos de emergência” que surgiram contra si nessas instâncias ficaram guardados durante anos, esperando a hora de ser usados.
Viram que maravilha como sumiram todos os “bodes galeguinhos”, assessores enrolados e tudo mais, como em um passe de mágica?
Impressiona que impérios de comunicação e certos políticos tão
experientes e com tantos recursos se deixem levar pelo vaivém de outros
políticos notórios justamente pela ambigüidade política e ideológica.
Ao ceder à chantagem jurídico-midiática de que se confrontasse o STF
seria atacado da mesma forma com que Renan Calheiros no Senado e
Severino Cavalcanti na Câmara foram há alguns anos, Alves também agrada
ao Palácio do Planalto e a parcela crescente do PT que prefere “virar a
página” de um jogo que julgam perdido, pois a mídia conseguiu condenar
politicamente alguns petistas.
O fato é o seguinte: Alves se reelegeu contra a vontade da mídia. Ele
sabe muito bem que isso não iria ficar assim, que ela trabalharia dia e
noite para derrubá-lo, pois não pode ficar como derrotada em conseguir
desmoralizar quem quiser desmoralizar, pois precisa ser temida. Assim,
ele ofereceu mercadoria que não pode entregar.
Quem acha que o rito que a Câmara irá adotar quando se esgotarem
todos os recursos dos réus do julgamento do “mensalão” será decidido
única e exclusivamente pelo presidente da Casa, engana-se redondamente.
Decisões como essa são frutos de acordos de bastidores. No caso de Alves
e da Câmara, o que vier a ocorrer daqui a talvez até um ano, será
assim.
Sem essa pseudo rendição do presidente da Câmara, ele enfrentaria já
um ataque em massa e incessante, além de certamente os braços midiáticos
no MPF e no STF levarem adiante um processo contra si que estava
esquecido e que ao esquecimento voltará… Ou melhor, que ao esquecimento
JÁ voltou.
Caso a montanha de recursos dos réus da AP 470 que serão interpostos
no STF não funcionem e o processo seja remetido à “Câmara”, o rito a ser
adotado será produto de uma decisão política que, por óbvio, não será
só do presidente da Casa, mas de acordos mil.
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