Por Marcos Coimbra*
Um espectro ronda a política brasileira. O fantasma da
próxima eleição presidencial. Este ano já foi marcado por ele. Ou alguém
acredita que é genuína a inspiração ética por trás da recente onda moralista,
que são sinceras as manchetes a saudar “o julgamento do século”? Que essas
coisas são mais que capítulos da luta política cujo desfecho ocorrerá em
outubro de 2014?
A história dos últimos dez anos foi marcada por três apostas
equivocadas que as elites brasileiras, seus intelectuais e porta-vozes fizeram.
A primeira aconteceu em 2002, quando imaginaram que Lula não venceria e que, se
vencesse, seria incapaz de fazer um bom governo.
Estavam convencidos de que o povo se recusaria a votar em
alguém como ele, tão parecido com as pessoas comuns. Que terminaria a eleição
com os 30% de petistas existentes. E que, por isso, o adversário de Lula
naquela eleição, quem quer que fosse, ganharia.
O cálculo deu errado, mas não porque ele acabou por
contrariar o prognóstico. No fundo, todos sabiam que com a rejeição de Fernando
Henrique Cardoso não era impossível que José Serra perdesse.
A verdadeira aposta era outra: Lula seria um fracasso como
presidente. Sua vitória seria um remédio amargo que o Brasil precisaria tomar.
Para nunca mais querer repeti-lo.
Quando veio o “mensalão”, raciocinaram que bastaria
aproveitar o episódio. Estava para se cumprir a profecia de que o PT não
ultrapassaria 2006. Só que Lula venceu outra vez e a segunda aposta também deu
errado. E ele fez um novo governo melhor que o primeiro, aos olhos da quase
totalidade da opinião pública. Em todos os quesitos relevantes, as pessoas o
compararam positivamente aos de seus antecessores, em especial aos oito anos
tucanos.
A terceira aposta foi a de que o PT perderia a eleição de
2010, pois não tinha um nome para derrotar o PSDB. Que ali terminaria a
exageradamente longa hegemonia petista na política nacional. De fato não tinha,
mas havia Lula e seu tirocínio. Ele percebeu que, com Dilma Rousseff, poderia
vencer.
O PT ultrapassou as barreiras de 2002, 2006 e 2010.
Estamos em marcha batida para 2014 e as oposições,
especialmente seu núcleo duro empresarial e midiático, se convenceram de que
não podem se dar ao luxo de uma quarta aposta errada. Que o PT não vai perder,
por incompetência ou falta de nomes, a próxima eleição. Terão de derrotá-lo.
Mas elas se tornaram também cada vez mais descrentes da
eficácia de uma estratégia apenas positiva. Desconfiam que não têm uma
candidatura capaz de entusiasmar o eleitorado e não sabem o que dizer ao País.
Perderam tempo com Serra, Geraldo Alckmin mostrou-se excessivamente regional e Aécio
Neves é quase desconhecido pela parte do eleitorado que conta, pois decide a
eleição.
Como mostram as pesquisas, tampouco conseguiram persuadir o
País de que “as coisas vão mal”. Por mais que o noticiário da grande mídia e
seus “formadores de opinião” insistam em pintar quadros catastróficos, falando
sem parar em crises e problemas, a maioria acha que estamos bem. Sensação que é
o fundamento da ideia de continuidade.
As oposições perceberam que não leva a nada repetir chavões
como “O País até que avançou, mas poderia estar melhor”, “Tudo de positivo que
houve nas administrações petistas foi herança de FHC”, “Lula só deu certo
porque é sortudo” e “Dilma é limitada e má administradora”. A população não
acredita nessa conversa. Faltam nomes e argumentos às oposições. Estão sem
diagnóstico e sem propostas para o Brasil, melhores e mais convincentes que
aquelas do PT.
Nem por isso vão cruzar os braços e aguardar passivamente uma
nova derrota. Se não dá certo por bem, que seja por mal. Se não vai na boa, que
seja no tranco. Fazer política negativa é legítimo, ainda que desagradável.
Denúncias, boatos, hipocrisias, encenações, tudo isso é arma usada mundo afora
na briga política.
A retórica anticorrupção é o bastião que resta ao
antilulopetismo. Mas precisa ser turbinada e amplificada. Fundamentalmente,
porque a maioria das pessoas considera os políticos oposicionistas tão
corruptos – ou mais – que os petistas.
O que fazer? Aumentar o tom, falar alto, criar a imagem de
que vivemos a época dos piores escândalos de todos os tempos. Produzir uma
denúncia, uma intriga, uma acusação atrás da outra.
Pelo andar da carruagem, é o que veremos na mídia e no
discurso oposicionista ao longo de 2013. Já começou.
Vamos precisar de estômago forte.
*Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox
Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.
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