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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A LONGA AGONIA DO HOSPITAL DOM MOURA


O governador Eduardo Campos sabia há muito tempo que havia algo errado no Hospital Dom Moura. É possível, porém, que o socialista desconfiasse que parte das denúncias contra a unidade de saúde tivessem motivação política. O ex-presidente do PSB de Garanhuns, Ivan Rodrigues, uma vez lamentou que a imprensa da cidade estava sendo pautada por Altamir Pinheiro (Blog Chumbo Grosso), como se as acusações feitas regularmente pelo guerrilheiro contra diretores do HRDM não merecessem crédito. O advogado chegou a dizer a este repórter que a investida contra Emília tinha o objetivo de lhe atingir, dada a amizade dos dois.

Outro grupo, vinculado aos gestores do Hospital, atribuía as críticas e denúncias ao Capital Hudson ou defensores dele, considerado até hoje o melhor diretor que passou pelo Dom Moura, apesar de inúmeras tentativas de acabar com sua imagem.

Na verdade o Altamir tinha e tem razão em muitas coisas, os funcionários que fizeram denúncias anônimas merecem credibilidade e nunca percebi a menor movimentação do Capitão no sentido de desestabilizar os diretores do Hospital.

Eduardo Campos não deu o devido peso às informações da imprensa do interior (os jornalistas da capital se omitiram dessa questão esses anos todos, à exceção de uma ou outra nota do Magno), talvez preferindo dar um crédito de confiança às pessoas que sempre foram fieis politicamente a Miguel Arraes e ele próprio. Assim, sem fatos concretos, com denúncias feitas por funcionários anônimos e com as campanhas políticas no meio das crises (2010 e 2012), o governador protelou o quanto pôde a questão do Dom Moura.

Apenas um dos seus fieis seguidores na cidade, filiado ao PSB de Garanhuns, aconselhou ao governante mudanças na direção da unidade de saúde, diante da gravidade dos fatos que por lá aconteciam. Foi no entanto uma voz isolada na base do Governo e nenhuma decisão foi tomada.

Foi preciso então que  uma empresa prestadora de serviços  do Hospital levasse uma denúncia à Secretaria de Saúde do Estado, para enfim se começar um processo de investigação sério sobre possíveis irregularidades no Dom Moura.

A essa altura muita coisa já se sabe, reveladas pelo próprio delegado encarregado do caso, e outras ainda podem vir à tona, pois por todos os lados pipocam histórias escabrosas envolvendo gente que trabalha na unidade de saúde regional.

O titular deste blog conversou ontem à tarde com uma moça que atuou no Dom Moura durante um tempo. Saiu por não aguentar conviver com "tanta coisa errada". Segundo ela, Emília Pessoa está pagando um preço alto por ter confiado em seus assessores. Na opinião dessa servidora pública a ex-diretora nunca apresentou nem apresenta nenhum sinal de riqueza nessa sua passagem pelo complicado cargo.

Outros, revela a ex-funcionária do Hospital, ostentavam mesmo o enriquecimento rápido e fácil. Iam trabalhar com roupas e sapatos caríssimos, faziam viagens até o exterior, construíram mansões e compraram carros de luxo e nunca procuraram esconder sua rápida ascensão social.

"Muitas dessas pessoas davam ordens e perseguiam humildes funcionários usando o nome da diretora. Chegaram a fazer comunicados antipáticos e falsificar a assinatura", revelou. Ela não isenta Dra. Emília, acredita que ela atraiu a ira dos servidores por sua postura autoritária e arrogante, mas está convencida de que a mesma não se beneficiou de esquemas fraudulentos dentro do hospital na mesma proporção que seus subordinados.

"Tinha casos gritantes. Um dos seus auxiliares tinha esposa fora e quatro amantes trabalhando no hospital. Como ele bancava tudo isso se não fosse com muito dinheiro, já que não é nenhum galã"?, questiona.

Minha fonte reconhece que é difícil para qualquer pessoa administrar o Dom Moura. São quase 600 funcionários e segundo ela poucos deles realmente têm compromisso com o serviço público. A safadeza vai da faxina às enfermarias, começa nos vigilantes e chega nos médicos. Um exemplo: são escalados dois plantonistas por dia. Cada um deve trabalhar 24 horas seguida para então ter um dia todo (ou dois) de descanso. Eles combinam, cada um dá 12 horas de serviços, o que pega a parte da noite aproveita mais para dormir, e recebem como se tivessem trabalhado o dia todo. Existem profissionais que chegam a usar o Hospital Público para descansar da trabalheira que têm em suas clínicas particulares.

Diante de um comportamento desses de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, dentistas, auxiliares administrativos, maqueiros, vigilantes, copeiras, serventes,  atendentes em geral... Só mesmo um tenente ou capitão da Polícia Militar pra dá jeito, não é mesmo? É o que muita gente pensa.

Particularmente, imagino que o Dom Moura precisa mesmo é de um bom gestor. Alguém que seja da área médica, com capacidade administrativa e sem vínculos políticos. Nesse sentido, me parece que o governador Eduardo Campos e o seu secretário de Saúde, Antônio Carlos Figueira, escolheram a dedo a pessoa que vem substituir Emília. Karla Freitas, a diretora nomeada hoje, tem curso superior de enfermagem, especialização em trabalhos com o SUS e experiência em dirigir um Hospital com o porte desse de Garanhuns. Vem como técnica competente com aval do Governo, não de um deputado que queria solucionar a crise dando um "presente de grego" a Sandoval Cadengue.

Esse argumento de que Eduardo Campos afrontou Garanhuns porque está trazendo alguém de fora é de uma pobreza total. Coisa de mente pequena mesmo. Nosso município tem mais de 130 mil habitantes, é uma cidade cosmopolita, com universidades que atraem professores e estudantes de todas as regiões do país. Pelo nosso comércio mesmo passam diariamente consumidores de centenas de cidades da região e do Nordeste. Chega de provincianismo. De que adianta indicar um gestor de Garanhuns para ficar enrolado em problemas políticos e administrativos? É melhor alguém neutro, com capacidade de gestão e que tenha condições de pôr ordem na casa.

Quem sabe após essa longa e lenta agonia o Hospital Dom Moura entra num novo ritmo. Vai depender muito da nova diretora, mas não só dela. Todos deviam se conscientizar da importância dessa unidade de saúde para a cidade, o Agreste e Pernambuco e esquecer pelo menos por um segundo seus interesses pessoais.

Médicos, enfermeiros, auxiliares, dentistas, serventes, funcionários do HRDM em Geral, por que não se unirem todos por uma causa maior? Por Garanhuns, para tirar o Dom Moura das páginas policiais e transformá-lo numa referência em Pernambuco na área de saúde. Sabemos que existem problemas estruturais, que os salários são baixos, o ambiente é pesado... Sim, tudo isso é verdade. Mas qualquer um escolhido para gestor vai trabalhar com isso. E o líder, o bom administrador, é exatamente aquele em condições de superar condições difíceis. 

Assim, é precipitado julgar quem ainda não assumiu. Formar opinião sobre quem não se conhece. Se Karla Freitas se preparou para trabalhar como gestora de saúde, se tem currículo, se o governador e o secretário confiam nela, vamos também dar-lhe um crédito. Se ela errar será mais uma a sofrer nas mãos do Dom Moura, caso acerte será bom para o Hospital e para a cidade.

Começa uma nova história a partir de hoje. O que passou, é página virada, embora a polícia continue trabalhando e um dos promotores públicos já tenha até admitido pedir a prisão de algum dos indiciados pela irregularidades cometidas.

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