DO BLOG DE JOSIAS DE SOUZA
O excesso de esperteza fez do tucano José Serra um candidato sui generis.
Para grudar no rival Fernando Haddad a pecha de antirreligioso, guindou
a homofobia à condição de tema central da disputa pela prefeitura de
São Paulo. Pilhado em contradição, passou a irritar-se com repórteres.
Quer mudar de assunto. Depois de melindrar-se com a mineira Dilma
Rousseff por “meter o bico” em São Paulo, Serra como que terceirizou ao
telepastor carioca Silas Malafaia os ataques de timbre moral a Haddad. O
líder religioso criticou a gestão do candidato de Lula no Ministério da
Educação.
Súbito, a repórter
Mônica Bergamo informou que, em 2009, o governo de São Paulo, sob
Serra, enviara às escolas da rede pública do Estado material semelhante.
A imprensa – ou
parte dela — foi ao calcanhar. Pouco afeito ao contraditório, o tucano
acionou o bico. Numa entrevista à rádio CBN, foi inquirido pelo repórter
Kennedy Alencar. “[...] Sua atitude é uma contradição por conveniência
eleitoral ou o senhor se tornou conservador?” E Serra: “Eu sei que você
tem preferências políticas mas, modere, você não pode fazer campanha
eleitoral aqui.”
Noutra entrevista,
uma repórter perguntou a Serra se o tom agressivo de sua campanha tem a
ver com as pesquisas que o desfavorecem. As plumas eriçaram-se: “Vai lá
pro Haddad. É a pauta dele. Você não precisa trabalhar pra ele. Ele já
tem bastante assessor.”
Num terceiro
encontro de Serra com os microfones, de novo a homofobia: “Está faltando
esclarecer se o senhor concorda ou não com esse tipo de orientação nas
escolas”, observou uma repórter. “Não está faltando esclarecer nada.
Você leu? Eu pergunto se você leu.” Lero vai, lero vem, Serra emendou:
“Vai lá com o Haddad e trabalha com ele. É mais eficiente.”
Serra tornou-se
escravo do seu tema-bumerangue. Instado a explicar-se, complica-se.
Potencializa a fama de personagem avesso à imprensa que imprensa. Ainda
não se deu conta. Mas flerta com o ridículo. Político que se queixa do
noticiário é como capitão de navio que reclama da existência do mar. - Moral um, à moda de Tancredo Neves: Esperteza, quando é muita, come o dono. - Moral dois, à maneira do provérbio: ‘Kit gay’ na campanha dos outros é refresco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário