Colunista da revista Época pergunta, em artigo,
quanto tempo os "analistas de plantão" irão levar para reconhecer que o
grande vitorioso das eleições deste domingo foi Lula e que, por isso,
"os coveiros de sua força política passaram o dia de ontem trocando
sorrisos amarelos"
O vencedor foi Lula
Eu pergunto quanto tempo nossos analistas de plantão vão levar para
reconhecer o grande vitorioso do primeiro turno da eleição municipal.
Não, não foi Eduardo Campos, embora o PSB tenha obtido vitorias importantes no Recife e em Belo Horizonte.
Também não foi o PDT, ainda que a vitória de José Fortunatti em Porto
Alegre tenha sido consagradora. Terá sido o PSOL? Os "novos partidos"?
O grande vitorioso de domingo foi Luiz Inácio Lula da Silva e é por
isso que os coveiros de sua força política passaram o dia de ontem
trocando sorrisos amarelos.
Nem sempre é fácil reconhecer o óbvio ululante. É mais fácil lembrar a derrota do PT no Piauí, ou em São Luís.
Nosso leitor Roberto Locatelli lembra: o PT passou o PMDB e foi o
partido que mais acumulou votos na eleição. Tinha 550 prefeituras. Agora
tem mais de 612.
Vamos combinar: a principal aposta de Lula em 2012 foi Fernando
Haddad que, superando as profecias do início da campanha, não só passou
para o segundo turno mas entra nessa fase da disputa em posição bastante
favorável. Em São Paulo se travou a mãe de todas as batalhas.
Imagino as frases prontas e as previsões sombrias sobre o futuro de Lula e do PT se Haddad tivesse ficado de fora...
A disputa no segundo turno está apenas no início e é cedo para qualquer previsão.
Mas é bom notar que as pesquisas indicam que Haddad é a segunda
opção da maioria dos eleitores de Celso Russomano. Uma pesquisa disse
até que Haddad poderia chegar em segundo no primeiro turno, mas tinha
boas chances de vencer Serra, no segundo. Qual o valor disso agora? Não
sei. Mas é bom raciocinar com todas as informações.
Quem assistiu a pelo menos 30 minutos dos debates presidenciais sabe
que Gabriel Chalita já tem lado definido desde o início – como
adversário de José Serra. O que vai acontecer? Ninguém sabe.
O próprio Serra tem uma imensa taxa de rejeição, que limita, por si só, seu potencial de crescimento.
O apoio de Russomano tem um peso relativo. Se ele não conseguia
controlar aliados quando era favorito e podia dar emprego para todo
mundo, inclusive para uma peladona de biquini cor de rosa descrita como
assessora, imagine agora como terá dificuldades para manter a, digamos,
fidelidade partidária...
O mais provável é que seu eleitorado se divida em partes mais ou menos iguais.
Não vejo hipótese da Igreja Universal ficar ao lado de José Serra. Nem Silas Malafaia com Haddad.
A votação de Haddad confirma a liderança de Lula e a disposição dos
eleitores em defender o que ele representa. Mostra que o ambiente
político de 2010, que levou a eleição de Dilma Rousseff, não foi
revertido. Isso não definiu o resultado em cada cidade mas ajudou a
compor a situação no país inteiro.
Os 40% de votos que Patrus Ananias obteve em Belo Horizonte mostram
um desempenho bem razoável, considerando que o tamanho do condomínio
adversário.
Quem define a boa vitória de Lacerda como uma vitória de Aécio sobre Dilma incide no pecado da ejaculação precoce.
O grande derrotado do primeiro turno, que mede a força original de
cada partido, não aquilo que se pode conquistar com alianças da segunda
fase, foi o PSDB.
O desempenho tucano sequer qualifica o partido como oponente nacional
do PT. Perdeu eleição em Curitiba, onde seu concorrente tinha apoio do
governador de Estado, desapareceu em Porto Alegre e no Rio de Janeiro,
terra do vice de José Serra em 2010 – que não é tucano, por sinal. Se a
principal vitória do PSDB foi com um candidato do PSB é porque alguma
coisa está errada, concorda?
Respeitado por ter chegado em primeiro lugar em São Paulo, Serra já teve desempenhos melhores.
As cenas finais da campanha foram os votos do julgamento do mensalão,
transmitidos em horário nobre durante um mês inteiro. Tinham muito mais
audiência do que os programas do horário político.
Menino pobre e preto, Joaquim Barbosa já vai sendo apresentado como um contraponto a Lula...
Antes que analistas preconceituosos voltem a dizer que a população de
renda mais baixa tem uma postura menos apegada a princípios éticos –
suposição que jamais foi confirmada por pesquisadores sérios — talvez
seja prudente recordar que o eleitor é muito mais astuto do que muitos
gostariam.
Sabe separar as coisas.
Aprendeu a decodificar o discurso moralista, severo com uns, benigno
com outros, como a turma do mensalão do PSDB-MG, os empresários que
jamais foram denunciados na hora devida...
Anunciava-se, até agora, que a eleição seria nacionalizada e levaria a um julgamento de Lula.
Não foi. O pleito mostra que o eleitor não mudou de opinião.
O eleitor mostrou, mais uma vez, que adora rir por último
Fonte: blog 247
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