Há dois meses que a direita midiática brasileira divulga uma
realidade paralela na qual todos os seus sonhos se materializariam. O
primeiro desses sonhos se refere a Lula, que teria perdido influência
junto ao povo. O segundo sonho envolve o PT, que estaria em vias de
extinção política. E tudo isso estaria ocorrendo devido ao julgamento do
mensalão.
As pesquisas de intenção de voto também vinham sendo cruéis com os
petistas por terem mostrado uma realidade paralela que, ao fim do
processo eleitoral em primeiro turno, deixou de ser “realidade” e voltou
a ser a fantasia que sempre foi.
Temos, porém, que nos deter nesse capítulo: umas duas dezenas de
horas antes de fecharem-se as urnas o instituto Datafolha divulgou
quadro sobre a disputa eleitoral em São Paulo que não corroborava a
teoria sobre a “morte” do PT que os donos desse instituto, entre outros,
vinham alardeando, e idealizava o segundo turno dos sonhos da mídia e
do PSDB.
No sábado, horas antes da eleição, o Datafolha afirmava que José
Serra e Celso Russomano eram os mais cotados para ir ao segundo turno.
Todavia, fechadas as urnas, todos descobriram o que este blog vinha
dizendo ser a verdade: o instituto de pesquisas do jornal Folha de São
Paulo havia produzido uma realidade em vez de se limitar ao dever de
relatá-la.
No Datafolha, durante toda a campanha do primeiro turno, Fernando
Haddad nunca ficou em segundo lugar, numericamente. Mas ficou nas urnas,
que é o que importa.
Todavia, não foi por outra razão que este blogueiro e o doutor
Antonio Donizeti da Costa, diretor-jurídico do Movimento dos Sem Mídia,
varamos dias a fio elaborando uma denúncia contra fraudes em pesquisas
que envolvia o Datafolha e o instituto que é considerado sua antítese, o
Vox Populi. Sabíamos que havia algo errado com as pesquisas de um
deles. Agora, todos sabem qual é.
Sobre a realidade paralela que a mídia tucana criou, sobre a pseudo
débâcle do PT e de Lula, os fatos falam por si. Sobre “efeitos
políticos” que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o
ministro do Supremo Marco Aurélio de Mello e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso torciam para que resultasse do julgamento do mensalão,
não se materializaram.
Talvez a melhor tradução do recado do povo à direita
midiático-judiciária seja a eleição em primeiro turno do candidato do PT
a prefeito de Osasco, Jorge Lapas. Para quem não sabe, ele substituiu o
deputado João Paulo Cunha, recentemente condenado (sem provas) pelo
Supremo Tribunal Federal.
Pois bem, o STF impediu a candidatura de um petista e o povo, então,
elegeu outro petista. O recado do povo de Osasco foi claríssimo: não
acreditamos no julgamento que condenou João Paulo e, então, vamos votar
no candidato que ficou em seu lugar. Ponto.
Por todo o país, o PT teve um desempenho tão além do que a mídia
previa que até (pasmem) Merval Pereira reconheceu, na Globo News, que “o
julgamento do mensalão não teve o efeito esperado”. Ora, Merval, se
você lesse a blogosfera – ou ao menos este blog – teria descoberto isso
antes.
Claro que o PT ainda pode não vencer em cidades-chave como São Paulo,
mas isso, se ocorresse, não mudaria a vitória imensa que o partido
obteve no primeiro turno. Nas maiores cidades, o PT certamente é, ao
lado do PSB, o partido que mais elegeu vereadores e prefeitos em
primeiro turno. Em breve os números estarão aí para quem quiser
comprovar.
Mas, para não dizerem que não falei de flores, vamos ao que julgo que ocorrerá em São Paulo no segundo turno.
Gabriel Chalita já avisou que deve se compor com Haddad – até porque,
é inimigo figadal de José Serra. Quanto a Celso Russomano,
independentemente do que possa querer os eleitores que estavam consigo
devem migrar, em expressiva maioria, para o candidato do PT.
Explico: o eleitorado que votou em Russomano é da periferia, do
chamado “cinturão vermelho” de São Paulo, um eleitorado entre o qual o
PT sempre vence em qualquer eleição para cargos majoritários, seja para
prefeito, governador ou presidente. Esse eleitorado estava com Russomano
porque julgava que era ele quem tinha mais chance de derrotar Serra.
Sobre o tucano, sua enorme rejeição reside, em grande parte, sabe
entre que eleitorado, leitor? Entre o de Haddad e o de Russomano. Não
que não exista quem rejeite Serra entre o eleitorado de Gabriel Chalita,
mas a periferia paulistana é que dava base a Russomano porque apostava
nele para impedir que o atual modelo de gestão de São Paulo
prosseguisse.
Claro que, para Haddad, será muito mais duro enfrentar Serra do que o
frágil Russomano, que tinha votos emprestados do petista. Afinal, a
mídia cairá matando em cima de Haddad para tentar salvar a carreira
política do seu aliado tucano. Todavia, Serra não terá mais a ajudinha
do Datafolha, que sai desmoralizado do primeiro turno.
O Datafolha pode até praticar suas bruxarias, mas, desta vez, o eleitorado já saberá que não deve lhe dar muita bola.
Claro que mídia e Serra vão tentar, mais uma vez, oferecer mensalão
aos paulistanos em vez de propostas para melhorar a cidade. Contudo,
mais uma vez o prognóstico deste blog é o de que colherão o mesmo
resultado que colheram em todas as eleições nas quais apostaram nessa
“bala de prata”.
Quem enxerga o que a direita midiática tenta fazer no Brasil e
percebe quão antidemocrático é, portanto, tem motivos de sobra para
comemorar. Como foi dito incontáveis vezes nesta página, a maioria
esmagadora do povo não está nem aí para o mensalão. A direita pode ter a
mídia e o STF, mas não tem povo – que, ao fim, é quem manda.
Fonte: blog da cidadania
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