Lula virou o diabo para a direita brasileira, comandada por seu partido –
a mídia privada. Pelo que ele representa e por tê-los derrotado três
vezes sucessivas nas eleições presidenciais, por se manter como o maior
líder popular do Brasil, apesar dos ataques e manipulações de todo tipo
que os donos da mídia – que não foram eleitos por ninguém para querer
falar em nome do país – não param de maquinar contra ele.
Primeiro, ele causou medo quando surgiu como líder operário, que trazia
para a luta política aos trabalhadores, reprimidos e super-explorados
pela ditadura durante mais de uma década e o pânico que isso causava em
um empresariado já acostumado ao arrocho salarial e à intervenção nos
sindicatos.
Medo de que essa política que alimentava os superlucros das grandes
empresas privadas nacionais e estrangeiras – o santo do chamado “milagre
econômico” -, terminasse e, com ela, a possibilidade de seguirem
lucrando tanto às custas da super-exploração dos trabalhadores.
Medo também de que isso tirasse as bases de sustentação da ditadura –
além das outras bases, as baionetas e o terror – e eles tivessem que
voltar às situações de incerteza relativa dos regimes eleitorais.
Medo que foi se acalmando conforme, na transição do fim do seu regime de
ditadura militar para o restabelecimento da democracia liberal,
triunfavam os conservadores. Derrotada a campanha das diretas, o Colégio
Eleitoral consagrou um novo pacto de elite no Brasil, em que se
misturavam o velho e o novo, promiscuamente na aliança PMDB-PFL, para
dar nascimento a uma democracia que não estendia a democracia às
profundas estruturas econômicas, sociais e midiáticas do país.
Sempre havia o medo de que Lula catalizasse os descontentamentos que não
deixaram de existir com o fim da ditadura, porque a questão social
continuava a arder no país mais desigual do continente mais desigual do
mundo. Mas os processos eleitorais pareciam permitir que as elites
tradicionais retomassem o controle da vida política brasileira.
Aí veio o novo medo, que chegou a pânico, quando Lula chegou ao segundo
turno contra o seu novo queridinho, Collor, o filhote da ditadura. E foi
necessário usar todo o peso da manipulação midiática para evitar que a
força popular levasse Lula à presidencia do Brasil, da ameaça de
debandada geral dos empresários se Lula ganhasse, à edição forjada de
debate, para tentar evitar a vitória popular.
O fracasso do Collor levou a que Roberto Marinho confessasse que eles já
não elegeriam um presidente deles, teriam que buscar alguém no outro
campo, para fazê-lo seu representante. Se tratava de usar de tudo para
evitar que o Lula ganhasse. Foram buscar ao FHC, que se prestou a esse
papel e parecia se erigir em antidoto permanente contra o Lula, a quem
derrotou duas vezes.
Como, porém, não conseguem resolver os problemas do país, mas apenas
adiá-los – como fizeram com o Plano Real -, o fantasma voltou, com o
governo FHC também fracassando. Tentaram alternativas – Roseana Sarney,
Ciro Gomes, Serra -, mas não houve jeito.
Trataram de criar o pânico sobre a possibilidade da vitória do Lula, com
ataque especulativo, com a transformação do chamado “risco Brasil” para
“risco Lula”, mas não houve jeito.
Alivio, quando acreditaram que a postura moderada do Lula ao assumir a
presidência significaria sua rendição à politica econômica de FHC, ao
“pensamento único”, ao Consenso de Washington. Por um lado, saudavam
essa postura do Lula, por outro incentivavam os setores que denunciavam
uma “traição” do Lula, para buscar enfraquecer sua liderança popular. No
fundo acreditavam que Lula demoraria pouco no governo, capitularia e
perderia liderança popular ou colocaria suas propostas em prática e o
país se tornaria ingovernável.
Quando se deram conta que Lula se consolidava, tentaram o golpe em 2005,
valendo-se de acusações multiplicadas pela maior operação de marketing
político que o pais ja conheceu – desde a ofensiva contra o Getúlio, em
1954 -, buscando derrubar o Lula e sepultar por muito tempo a
possibilidade de um governo de esquerda no Brasil. Colocavam em prática o
que um ministro da ditadura tinha dito: Um dia o PT vai ganhar, vai
fracassar e aí vamos poder governar o país sem pressão.”
Chegaram a cogitar um impeachment, mas tiveram medo do Lula, da sua
capacidade de mobilização popular contra eles. Recuaram e adotaram a
tática de sangrar o governo, cercando-o no Parlamento e através da
mídia, até que, inviabilizado, fosse derrotado nas eleições de 2006.
Fracassaram uma vez mais, quando o Lula convocou as mobilizações
populares contra os esquemas golpistas, ao mesmo tempo que a
centralidade das políticas sociais – eixo do governo Lula, que a direita
não enxergava, ou subestimava e tratava de esconder – começava a dar
seus frutos. Como resultado, Lula triunfou na eleições de 2006, ao
contrário do que a direita programava, impondo uma nova derrota grave às
elites tradicionais.
O medo passou a ser que o Brasil mudasse muito, tirando suas bases de
apoio tradicionais – a começar por seus feudos políticos no nordeste -,
permitindo que o Lula elegesse sua sucessora. Se refugiaram no
“favoritismo” do Serra nas pesquisas – confiando, uma vez mais, na
certeza do Ibope de que o Lula não elegeria sua sucessora.
Foram de novo derrotados. Acumulam derrota atrás de derrota e
identificam no Lula seu grande inimigo. Ainda mais que nos últimos anos
do seu segundo mandato e na campanha eleitoral, Lula identificou e
apontou claramente o papel das elites tradicionais, com afirmações como a
de que ele demonstrou “que se pode governar o Brasil, sem almoçar e
jantar com os donos de jornal”. Quando disse que “não haverá democracia
no Brasil, enquanto os políticos tiverem medo da mídia”, entre outras
afirmações.
Quando, depois de seminário que trouxe experiências de regulações
democráticas da mídia em varias partes insuspeitas do mundo, elaborou
uma proposta de lei de marco regulatório para a mídia, que democratize a
formação da opinião pública, tirando o monopólio do restrito número de
famílias e empresas que controlam o setor de forma antidemocrática.
Além de tudo, Lula representa para eles o sucesso de um presidente que
se tornou o líder político mais popular da história do Brasil, não
proveniente dos setores tradicionais, mas um operário proveniente do
nordeste, que se tornou líder sindical de base desafiando a ditadura,
que perdeu um dedo na máquina – trazendo no próprio corpo inscrita a sua
origem e as condições de trabalho dos operários brasileiros.
Enquanto o queridinho da direita partidária e midiática brasileira, FHC,
fracassou, Lula teve êxito em todos os campos – econômico, social,
cultural, de políticas internacional -, elevando a auto-estima dos
brasileiros e do povo brasileiro. Lula resgatou o papel do Estado –
reduzido à sua mínima expressão com Collor e FHC – para um instrumento
de indução do crescimento econômico e de garantia das políticas sociais.
Derrotou a proposta norteamericana da Alca – fazer a América Latina uma
imensa área de livre comércio, subordinada ao interesses dos EUA -,
para priorizar os projetos de integração regional e os intercâmbios com o
Sul do mundo.
Lula passou a representar o Brasil, a América Latina e o Sul do mundo,
na luta contra a fome, contra a guerra, contra o monopólio de poder das
nações centrais do sistema. Lula mostrou que é possível diminuir a
desigualdade e a pobreza, terminar com a miséria no Brasil, ao contrário
do que era dito e feito pelos governos tradicionais.
Lula saiu do governo com praticamente toda a mídia tradicional contra
ele, mas com mais de 80% de apoio e apenas 3% de rejeição. Elegeu sua
sucessora contra o “favoritismo” do candidato da direita.
Aí acreditaram que poderiam neutralizá-lo, elogiando a Dilma como
contraponto a ele, até que se rendem que não conseguem promover
conflitos entre eles. Temem o retorno do Lula como presidente, mas
principalmente o temem como líder político, como quem melhor vocaliza os
grandes temas nacionais, apontando para a direita como obstáculo para a
democratização do Brasil.
Lula representa a esquerda realmente existente no Brasil, com liderança
nacional, latino-americana e mundial. Lula representa o resgate da
questão social no Brasil, promovendo o acesso a bens fundamentais da
maioria da população, incorporando definitivamente os pobres e o mercado
interno de consumo popular à vida do país.
Lula representa o líder que não foi cooptado pela direita, pela mídia,
pelas nações imperiais. Por tudo isso, eles tem medo do Lula. Por tudo
isso querem tentam desgastar sua imagem. Por isso 80% das referências ao
Lula na mídia são negativas. Mas 69,8% dos brasileiros dizem que
gostariam que ele volte a ser presidente do Brasil. Por isso eles tem
tanto medo do Lula.
Emir Sader Publocado no blog do saraiva
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