Através de uma “Carta ao Povo de Pernambuco” divulgada nesta quarta-feira, o deputado federal
Maurício Rands
anuncia sua saída do PT, da política e do governo Eduardo Campos, que
devolverá o mandato ao partido e que votará em Geraldo Júlio (PSB) para
prefeito do Recife. Ei-la:
I- Venho aqui me comunicar diretamente com meus
eleitores, companheiros, amigos e com o povo de Pernambuco, em especial
com os militantes do Partido dos Trabalhadores – PT, que compartilharam
comigo tantas lutas pela democracia e pela construção de uma sociedade
melhor.
II- Nas prévias internas de definição do candidato do PT
e da Frente Popular, durante dois meses, participei de intenso debate
sobre o Recife e a vida partidária. Interagi com os militantes, na
compreensão conjunta de que a melhoria da condição de vida na cidade é
um processo de construção coletiva no qual o partido tem grande
responsabilidade em servir de exemplo na demonstração de práticas
democráticas. Testemunhei todo o engajamento desprendido e consciente de
milhares de pessoas nesse nobre debate. Destes militantes, levarei para
sempre as melhores memórias e a eles sou profundamente grato.
III- Depois da decisão da direção nacional do PT, impondo
autoritariamente a retirada da minha candidatura e da do atual prefeito,
recolhi-me à reflexão. Ponderei sobre o processo das prévias e sobre o
momento político mais geral. Concluí que esgotei por inteiro minha
motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT.
Percebi terem sido infrutíferas e sem perspectivas minhas tentativas de
afirmar a compreensão de que o ‘como fazer’ é tão importante quanto os
resultados.
IV- As diferenças de métodos e práticas, aliás, já vinham
sendo por mim amadurecidas e acumuladas há algum tempo. Todavia, este
processo recente fez com que as divergências ficassem mais claras e
insuperáveis. Na luta pela renovação do partido, no Recife e em outros
lugares, infelizmente, têm prevalecido posições da direção nacional,
adotadas autoritária e burocraticamente, distantes da realidade dos
militantes na base partidária.
V- No debate das prévias, minha candidatura buscou
construir uma legítima renovação por dentro do PT e da Frente Popular.
Mas lutamos, também, para renovar os procedimentos com o objetivo de
reforçar as práticas democráticas. Porém, setores dominantes da direção
nacional do PT já tinham outro roteiro que não o debate democrático com a
militância do PT no Recife e a sua deliberação. Ou seja, cometeram o
grave equívoco de ter a pretensão de impor, a partir de São Paulo, um
candidato à Frente Popular e ao povo do Recife.
VI- Por não terem dialogado com a militância do PT no
Recife, muito menos com a Frente Popular, ignoraram que existiam
alternativas, procedimentais e de quadros, dentro do partido, que
unificariam a Frente em torno de uma candidatura do PT. Com a decisão da
direção nacional do PT, lamentavelmente, esta unidade resultou
rompida. Diante da minha discordância com essa ruptura provocada pela
direção nacional do partido, concluí que cheguei ao fim de um ciclo na
minha vida de militante partidário.
VII- É nesse quadro que comunico aqui três decisões tomadas por
mim. Primeiro, a minha desfiliação do PT. Segundo, a devolução do
mandato de Deputado Federal ao partido. E, por último, meu afastamento
definitivo do cargo de Secretário do Governo Eduardo Campos.
VIII- Existiram diversas razões que me levaram a este caminho. A
mais crucial dá-se no nível da minha consciência. Sempre agi, na vida e
na política, com o maior rigor entre o que penso e o que faço. Sempre
cumpri os deveres da minha consciência.
IX- Defendi nos debates partidários a renovação do modo
petista de governar e a implantação de um novo modelo de gestão no
Recife. Modelo capaz de aprofundar nossa concepção de democracia
participativa e especialmente de trazer para a cidade métodos e ações
que o Governo Eduardo Campos vem praticando de maneira exemplar e com
reconhecimento inclusive internacional, mas que a administração do
Recife não conseguiu implantar.
X- Minha experiência como Secretário do Governador
Eduardo Campos foi fundamental para entender a importância da política
do fazer, com formas competentes e inovadoras de gerir os recursos
públicos, atrair investimentos privados e promover a inclusão social.
XI- Ainda nos debates das prévias, defendi a renovação das
práticas e dos quadros partidários, bem como a melhoria da articulação
política do governo municipal com o parlamento, os partidos da base e a
sociedade civil organizada. Nesses 32 anos de militância, dediquei
grande parte de minha vida a fortalecer o campo democrático-popular,
lutando para aumentar a participação e consciência política do nosso
povo.
XII- Amadureci as decisões que acabo de tomar com base em fatos
altamente relevantes que impactaram minha consciência de cidadão. Entre
estes, a opção da quase totalidade da Frente Popular pela indicação de
Geraldo Júlio como candidato a Prefeito do Recife. Trabalhei diretamente
com Geraldo Júlio e sou testemunha de como ele foi central para o
sucesso do Governo Eduardo Campos. Acredito que Geraldo Júlio é o quadro
mais preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do
Recife. Implantando na cidade o que o Governador Eduardo Campos está
fazendo em Pernambuco, ele vai melhorar concretamente a vida do povo do
Recife.
XIII- Estou consciente de que o nosso povo vai entender o
significado da escolha de um novo quadro para transformar as práticas
político-administrativas na cidade. Geraldo Júlio vai representar a
renovação dentro de uma frente política que – espero – seja mantida,
mesmo com o lançamento de duas candidaturas no seu campo.
IX- Como esta posição tem graves implicações para minha vida
partidária, decidi que devo sair do PT e, com dignidade, devolver meu
mandato ao partido. E como gesto concreto de que não se trata de um jogo
menor, de barganha por espaços de poder, decidi também sair
definitivamente do Governo Eduardo Campos. Esse é o custo, sem dúvida
elevado, de ser fiel à minha consciência cidadã. Saio da vida pública e
da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania.
Recife, 03 de julho de 2012
Maurício Rands
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