Por Paulo Santos de Oliveira, especial para o Blog de Jamildo
Perguntar não ofende, e quem pergunta é um antigo militante, há muito
afastado das lides partidárias, mas ainda orgulhoso de ter sido
fundador do PT e membro do seu primeiro diretório em Pernambuco, ao lado
de Marcelo Santa Cruz, Raimundo Ananias, João Paulo, Vera Baroni,
Fernando Ferro, Humberto Costa, Paulo Rubens e mais meia dúzia de gatos
pingados: um exército de Brancaleone que se reunia nos fundos da Ação
Católica Operária, na Rua Gervásio Pires, ou da FASE, na Macaxeira.
Tempos difíceis aqueles, os finais dos setenta, de ditadura por um
lado e falta – ou melhor, ausência total – de recursos, pelo outro.
As viagens para o interior, por exemplo, costumavam ser feitas no
“peixemóvel”, a Brasília do nosso presidente Peixe, um dos poucos
proprietários de veículo automotivo, que de tão velha tinha o piso todo
comido pela ferrugem. Qualquer descuido e o articulador aventureiro
corria o perigo de perder o solado dos pés, entre a abertura de um
diretório e outro.
Não era, decididamente, a “mangaba” de hoje em dia (embora seja
preciso reconhecer que, romantismos e idealismos a parte, o pau já
cantava feio entre a militância, desde aquela época).
Mas a pergunta, muito simples, é a seguinte: se o cidadão João da
Costa tivesse se candidatado ao Palácio do Capibaribe, quatro anos
atrás, por qualquer legenda que não a do PT e sem o apoio do seu
padrinho político, o então prefeito João Paulo, teria ele sido eleito?
Seguramente, não.
Donde se conclui que esse mandato pertence ao partido, não à pessoa dele.
E quando o partido o pediu de volta – e “partido” aqui significa o
conjunto da organização, as suas principais lideranças e as suas esferas
estadual e federal, não apenas a municipal, da qual o burgomestre, com a
caneta na mão, controla talvez a metade, pelo que se viu na malfadada
prévia – ele deveria tê-lo devolvido imediatamente.
O fato é que João da Costa não possuía currículo como político nem como administrador para pretender governar uma cidade do porte do Recife. Foi uma cartada de alto risco, no mínimo, do antigo prefeito, bancá-lo contra tudo e contra todos. Mas até aí, vá lá.
O fato é que João da Costa não possuía currículo como político nem como administrador para pretender governar uma cidade do porte do Recife. Foi uma cartada de alto risco, no mínimo, do antigo prefeito, bancá-lo contra tudo e contra todos. Mas até aí, vá lá.
A presidenta Dilma, que jamais havia “enfrentado as urnas”, foi
apadrinhada por Lula e está fazendo um governo aplaudidíssimo. E a não
ser que ocorra algum tsunami político ou econômico até 2014, o partido
não questionará sua reeleição.
Competia ao senhor Costa, então, ter feito o mesmo que ela: uma
administração fantástica, divina, maravilhosa, para justificar o seu
surpreendente alçamento ao posto. Ou, pelo menos, exibir uma grande
capacidade de articulação, mostrar-se um político agregador, charmoso,
encantador, um verdadeiro líder, até então desconhecido. “A vida é arte
do encontro”, disse o poeta Vinícius. A política, idem, podemos dizer
também, sem medo de errar.
Mas o João número dois não apenas fez uma administração pífia como já foi se desencontrando com o próprio número um, que o colocara lá, logo de cara, logo de saída. Se o ex não o deixava em paz, se o atazanava com cobranças, era obrigação dele suportá-lo, como os filhos têm de aturar os pais até chegarem à maioridade e ganharem a vida por conta própria.
Mas o João número dois não apenas fez uma administração pífia como já foi se desencontrando com o próprio número um, que o colocara lá, logo de cara, logo de saída. Se o ex não o deixava em paz, se o atazanava com cobranças, era obrigação dele suportá-lo, como os filhos têm de aturar os pais até chegarem à maioridade e ganharem a vida por conta própria.
E passou a governar sozinho, como se tivesse recebido o cargo por
obra e graça do Espírito Santo, sem conexão com as grandes lideranças
estaduais e nacionais, o que é inconcebível para quem está à testa de
uma metrópole desse tamanho. E, pior ainda, sem conexão com a população.
Depois, recusou-se a largar o osso. Não quer sair da cadeira.
O PT, que aqui acolá apronta lambanças, algumas desastrosas, dessa vez fez tudo certo, a meu ver. Primeiro, pediu e não foi atendido. Depois, foi às prévias, na tentativa de uma saída para o embrulho sem maiores traumas. E vem tentando de todas as maneiras uma saída negociada, sofrendo mais e mais desgaste a cada dia. Mas prefeito não só bateu o pé quanto melou as prévias, ao, de última hora, levar questões internas para uma instância externa, o Poder Judiciário, e forçar o acesso às urnas de muitos filiados sem condições de votar.
O PT, que aqui acolá apronta lambanças, algumas desastrosas, dessa vez fez tudo certo, a meu ver. Primeiro, pediu e não foi atendido. Depois, foi às prévias, na tentativa de uma saída para o embrulho sem maiores traumas. E vem tentando de todas as maneiras uma saída negociada, sofrendo mais e mais desgaste a cada dia. Mas prefeito não só bateu o pé quanto melou as prévias, ao, de última hora, levar questões internas para uma instância externa, o Poder Judiciário, e forçar o acesso às urnas de muitos filiados sem condições de votar.
Perdoem-me meus amigos, o bravo deputado Fernando Ferro e a combativa
deputada Tereza Leitão, mas vocês estão equivocados em apoiá-lo. Vejam
bem: Lula, vaidoso, falastrão, e já na posição de grande personagem da
política internacional, põe em risco sua reputação pessoal, como fez
recentemente, agindo de forma equivocada, mas em função dos interesses
do partido. Já João da Costa, com aquele ar aparentemente tímido e
modesto, com seu jeito de sacristão, atende apenas às suas ambições
pessoais. O partido que se dane.
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