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segunda-feira, 4 de junho de 2012

ARTIGO DE OPINIÃO : JOÃO DA COSTA DEVOLVA O QUE NÃO É SEU





Por Paulo Santos de Oliveira, especial para o Blog de Jamildo

Perguntar não ofende, e quem pergunta é um antigo militante, há muito afastado das lides partidárias, mas ainda orgulhoso de ter sido fundador do PT e membro do seu primeiro diretório em Pernambuco, ao lado de Marcelo Santa Cruz, Raimundo Ananias, João Paulo, Vera Baroni, Fernando Ferro, Humberto Costa, Paulo Rubens e mais meia dúzia de gatos pingados: um exército de Brancaleone que se reunia nos fundos da Ação Católica Operária, na Rua Gervásio Pires, ou da FASE, na Macaxeira.
Tempos difíceis aqueles, os finais dos setenta, de ditadura por um lado e falta – ou melhor, ausência total – de recursos, pelo outro.
As viagens para o interior, por exemplo, costumavam ser feitas no “peixemóvel”, a Brasília do nosso presidente Peixe, um dos poucos proprietários de veículo automotivo, que de tão velha tinha o piso todo comido pela ferrugem. Qualquer descuido e o articulador aventureiro corria o perigo de perder o solado dos pés, entre a abertura de um diretório e outro.
Não era, decididamente, a “mangaba” de hoje em dia (embora seja preciso reconhecer que, romantismos e idealismos a parte, o pau já cantava feio entre a militância, desde aquela época).
Mas a pergunta, muito simples, é a seguinte: se o cidadão João da Costa tivesse se candidatado ao Palácio do Capibaribe, quatro anos atrás, por qualquer legenda que não a do PT e sem o apoio do seu padrinho político, o então prefeito João Paulo, teria ele sido eleito?
Seguramente, não.
Donde se conclui que esse mandato pertence ao partido, não à pessoa dele.
E quando o partido o pediu de volta – e “partido” aqui significa o conjunto da organização, as suas principais lideranças e as suas esferas estadual e federal, não apenas a municipal, da qual o burgomestre, com a caneta na mão, controla talvez a metade, pelo que se viu na malfadada prévia – ele deveria tê-lo devolvido imediatamente.

O fato é que João da Costa não possuía currículo como político nem como administrador para pretender governar uma cidade do porte do Recife. Foi uma cartada de alto risco, no mínimo, do antigo prefeito, bancá-lo contra tudo e contra todos. Mas até aí, vá lá.
A presidenta Dilma, que jamais havia “enfrentado as urnas”, foi apadrinhada por Lula e está fazendo um governo aplaudidíssimo. E a não ser que ocorra algum tsunami político ou econômico até 2014, o partido não questionará sua reeleição.
Competia ao senhor Costa, então, ter feito o mesmo que ela: uma administração fantástica, divina, maravilhosa, para justificar o seu surpreendente alçamento ao posto. Ou, pelo menos, exibir uma grande capacidade de articulação, mostrar-se um político agregador, charmoso, encantador, um verdadeiro líder, até então desconhecido. “A vida é arte do encontro”, disse o poeta Vinícius. A política, idem, podemos dizer também, sem medo de errar.

Mas o João número dois não apenas fez uma administração pífia como já foi se desencontrando com o próprio número um, que o colocara lá, logo de cara, logo de saída. Se o ex não o deixava em paz, se o atazanava com cobranças, era obrigação dele suportá-lo, como os filhos têm de aturar os pais até chegarem à maioridade e ganharem a vida por conta própria.
E passou a governar sozinho, como se tivesse recebido o cargo por obra e graça do Espírito Santo, sem conexão com as grandes lideranças estaduais e nacionais, o que é inconcebível para quem está à testa de uma metrópole desse tamanho. E, pior ainda, sem conexão com a população. Depois, recusou-se a largar o osso. Não quer sair da cadeira.

O PT, que aqui acolá apronta lambanças, algumas desastrosas, dessa vez fez tudo certo, a meu ver. Primeiro, pediu e não foi atendido. Depois, foi às prévias, na tentativa de uma saída para o embrulho sem maiores traumas. E vem tentando de todas as maneiras uma saída negociada, sofrendo mais e mais desgaste a cada dia. Mas prefeito não só bateu o pé quanto melou as prévias, ao, de última hora, levar questões internas para uma instância externa, o Poder Judiciário, e forçar o acesso às urnas de muitos filiados sem condições de votar.
Perdoem-me meus amigos, o bravo deputado Fernando Ferro e a combativa deputada Tereza Leitão, mas vocês estão equivocados em apoiá-lo. Vejam bem: Lula, vaidoso, falastrão, e já na posição de grande personagem da política internacional, põe em risco sua reputação pessoal, como fez recentemente, agindo de forma equivocada, mas em função dos interesses do partido. Já João da Costa, com aquele ar aparentemente tímido e modesto, com seu jeito de sacristão, atende apenas às suas ambições pessoais. O partido que se dane.

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