O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta-feira por
unanimidade que o sistema de cotas raciais em universidades é
constitucional. O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, iniciou seu
voto --o último dos ministros-- por volta das 19h30, antecipando que
acompanha o voto do relator Ricardo Lewandowski. O julgamento, que terminou por volta das 20h, tratou de uma ação
proposta pelo DEM contra o sistema de cotas da UnB (Universidade de
Brasília), que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e
pardos. Ayres Britto disse durante o voto que os erros de uma geração podem ser
revistos pela geração seguinte e é isto que está sendo feito. Em um voto de quase duas horas, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou
ontem (25) que o sistema de cotas em universidades cria um tratamento
desigual com o objetivo de promover, no futuro, a igualdade. Para ele, a UnB cumpre os requisitos, pois definiu, em 2004, quando o
sistema foi implantado, que ele seria revisto em dez anos. "A política
de ação afirmativa deve durar o tempo necessário para corrigir as
distorções." Luiz Fux foi o segundo voto a favor das cotas raciais. Segundo Fux, não
se trata de discriminação reservar algumas vagas para determinado grupo
de pessoas. "É uma classificação racial benigna, que não se compara com a
discriminação, pois visa fins sociais louváveis", disse. A ministra Rosa Weber também seguiu o voto do relator. Para ela, o
sistema de cotas visa dar aos negros o acesso à universidade brasileira
e, assim, equilibrar as oportunidades sociais. O quarto voto favorável foi da Ministra Cármen Lúcia, que citou duas
histórias pessoais sobre marcas deixadas pela desigualdade na infância. Em seu voto, o ministro Joaquim Barbosa citou julgamento da Suprema
Corte americana que validou o sistema de cotas para negros nos Estados
Unidos, ao dizer que o principal argumento que levou àquela decisão foi o
seguinte: "Os EUA eram e continuam a ser um país líder no mundo livre,
mas seria insustentável manter-se como livre, mantendo uma situação
interna como aquela". Peluso criticou argumentos de que a reserva de vagas fere o princípio da
meritocracia. "O mérito é sim um critério justo, mas é justo apenas em
relação aos candidatos que tiveram oportunidades idênticas ou pelos
menos assemelhadas", disse. "O que as pessoas são e o que elas fazem
dependem das oportunidades e das experiências que ela teve para se
constituir como pessoa." O ministro Gilmar Mendes também votou pela constitucionalidade das cotas
em universidades, mas fez críticas ao modelo adotado pela UnB. Ele
argumentou que tal sistema, que reserva 20% das vagas para
autodeclarados negros e pardos, pode gerar "distorções e perversões".Celso de Mello disse, durante seu voto, que ações afirmativas estão em
conformidade com Constituição e com Declarações Internacionais
subscritas pelo Brasil.
Marco Aurélio Mello também seguiu o relator e votou pela
constitucionalidade do sistema de cotas. Dias Toffoli não participou do
julgamento por ter dado um parecer no processo quando era da
Advocacia-Geral da União.
Fonte: Folha
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