Vergonha! Vexame! Humilhação! Dizem as manchetes.
Há anos não víamos fontes tão garrafais.
Exatamente os sentimentos que eles querem impor ao povo.
Nenhum esforço para aliviar as dores da nação, para levantar o astral.
Sadismo puro e exclusivo!
Que ridículo!
É como se eles quisessem se vingar da alegria que sentimos.
“Vocês vão pagar pela esperança que tiveram na seleção! Vão pagar por
essa alegria criminosa que alimentaram!”, é o que dizem essas manchetes
loucas.
Quando a Petrobrás anuncia o recorde de 500 mil barris diários apenas
no pré-sal, a notícia vem escondida no miolo dos jornais, sem chamada
na capa. Sem manchetes, sem editoriais.
Quando a seleção brasileira perde um jogo, é isso que vemos.
Agindo assim, porém, eles apenas revelam o seu conhecido sadismo. Só estão satisfeitos quando acham que podem humilhar o povo.
Só que o povo é mais inteligente do que eles pensam. A alegria do futebol é um encantamento lúdico. Uma emoção passageira.
A Copa está pertinho do final agora. Só restam três jogos. Em alguns dias, tudo terá terminado.
Mas fizemos a nossa parte. Como outros países do mundo (Alemanha,
África do Sul, Coréia do Sul & Japão), sediamos uma Copa, e
conseguimos divulgar uma excelente imagem do nosso país.
O retorno em turismo, em negócios, ou simplesmente em troca de experiências, é incalculável.
Até mesmo a derrota da seleção foi uma experiência que tínhamos que
viver. Para entendermos melhor o papel da emoção em nossas vidas, por
exemplo.
Para compreender o tamanho dos desafios que temos pela frente.
O futebol é uma grande brincadeira, e mesmo assim a gente põe o coração nele.
A vida, porém, não é uma brincadeira. É um jogo de vida e morte, que os brasileiros jogam todos os dias, trabalhando duro.
Pela mesma razão, a felicidade que a vida nos traz, através da
família, do amor, da arte, do trabalho, tem muito mais profundidade que a
inocente alegria de uma vitória de seu time ou da seleção.
A seleção brasileira sofreu uma derrota histórica no futebol.
Mas o povo brasileiro experimenta uma vitória igualmente histórica.
Nos últimos 12 anos, a evolução do nosso país foi muito mais grandiosa
do que qualquer desempenho futebolístico.
Ainda há muito o que realizar, naturalmente.
Enfrentaremos ainda muitos percalços no caminho. Cada um deles, porém, servirá para nos fazer mais fortes e mais conscientes.
Esses que aí estão, se regozijando com a tristeza de um povo,
tentando espezinhá-lo ao invés de consolá-lo. Falando em humilhação,
vexame e vergonha, quando o bom senso pede apenas serenidade. Esses aí
mais uma vez mostram de que lado estão.
É até uma piada achar que estão tristes com a derrota da seleção.
Querem apenas enfraquecer o povo, diminuir sua alegria, deixá-lo
triste, com ódio, para que reaja apenas com suas emoções baixas, não com
seu bom senso.
São verdadeiros abutres, esperando ver o povo prostrar-se, deprimido, no chão, para lhe comer os olhos.
Será engraçado, todavia, ver suas caras quando o povo
conscientizar-se do que acontece, e responder-lhes não com o mesmo gesto
de raiva deles, mas com um sorriso maroto.
Um sorriso de quem conhece seus opressores há séculos, quiçá há
milênios. E sente aquela comichão no estômago pela perspectiva de vê-lo,
o opressor, perdendo a orgulhosa serenidade que o caracterizava.
Ao apelar para este sensacionalismo sádico e derrotista, a mídia
brasileira revela seu desequilíbrio emocional. O mesmo que fez a seleção
fazer um jogo tão feio.
Ou melhor, não o mesmo, porque não é o desequilíbrio de quem fica
nervoso, sob pressão, mas o desequilíbrio que nasce da mais louca
arrogância.
Então a gente ganha a partida. E se não ganhar, não tem importância. A
gente joga de novo, indefinidamente, porque a única luta que se perde,
como diziam os anarquistas, é aquela que se abandona!